terça-feira, 3 de abril de 2012

Apenas mais um escândalo



O mais novo político pego com a boca na botija é o senador Demóstenes Torres. Um daqueles oposicionistas histéricos prontos a dar declarações raivosas à imprensa sempre que algo do mesmo estilo acontece com algum membro do governo. Por isso mesmo, o lulo-petismo saboreia com gosto o desmascaramento de um de seus mais famosos críticos: "tá vendo? o mesmo que tanto falava da gente era ele próprio um corrupto. Bando de hipócritas!". Um argumento que serve apenas para satisfazer os menos exigentes, já que Torres ser ladrão não muda o fato de que há outros iguais a ele no governo. Mas faz parte. É o mesmo jogo que a oposição joga.
O problema pra mim começa quando se faz amplas generalizações a partir de fenômenos como esse. "político é tudo igual", "só no Brasil mesmo", sempre com um chatíssimo tom moralista de quem acha que militância política é compartilhar qualquer coisa no facebook. Esse tipo de discurso acaba fazendo um balaio de gatos, misturando coisas que são diferentes.
Pra começar: em qualquer lugar do mundo a oposição sempre usa o discurso da ética e da moralidade. O PT hoje faz o discurso que condena o "denuncismo" enquanto os demo-tucanos carregam a "bandeira da moralidade", papéis exatamente inversos aos que víamos no governo FHC. Faz parte. Como está temporariamente sem acesso aos cofres públicos, qualquer oposição tenta se aproveitar disso para denunciar os gastos questionáveis de quem está no governo. Isso aí é um jogo político quase atemporal.
Mas há coisas aí que são específicas do Brasil, ainda que não necessariamente só do nosso país. O total descaso dos políticos em ao menos aparentar interesse pelo bem comum é realmente ultrajante. O que só é piorado pela absurda impunidade que desfrutam. Realmente não dá pra reclamar quando as pessoas tem a sensação generalizada de que esses caras estão se lixando pra nós e que não precisarão pagar pela roubalheira que protagonizarem. Eles mesmos são os responsáveis por essa imagem.
Mas é evidente que há a contrapartida. Quem elege esses caras somos nós. Os que são pegos com a boca na botija normalmente renunciam para evitar a cassação e na eleição seguinte voltam como campeões de votos. Aconteceu com ACM, Jáder e José Roberto Arruda (e em certa medida com Collor). É fato: somos um país que ama reclamar que políticos são ladrões, mas ama igualmente eleger indefinidamente esses mesmos políticos dos quais tanto reclama.
Alguns apontam a ausência de uma educação de qualidade, predispondo as pessoas a serem enganadas. Para outros, somos um país de alienados, que por mais que queiram bancar os politizados da boca pra fora, no fundo não estão nem aí. Concordo com as duas proposições, que me parecem inquestionáveis. Mas há algo mais.
Convenhamos: somos um país em que a defesa da honestidade frequentemente é extremamente hipocrita. O cara que reclama do político ladrão (e depois vota nele de novo) é o mesmo que compra recibo pra fraudar imposto de renda, suborna o guarda e acha que se o time dele perdeu é porque foi roubado. Sejamos honestos ao menos uma vez na vida e reconheçamos: nossos políticos são a nossa cara.

2 comentários:

  1. Os políticos são a nossa cara, mas nós não somos o que somos, somos o que estamos, e que façamos ficar diferente daqui pra frente. Que provavelmente as caras serão melhores, já que parece estarmos nas piores.

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  2. Opa, olha minha cara nessa foto! Você não pode me ver, meu caro!

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