quarta-feira, 18 de abril de 2012

Brizola



Peço perdão aos amigos pelo fato de o blog andar meio parado. São questões pessoais. Não se preocupem: as coisas não estão ruins, pelo contrário, apenas confusas. Mas retomo falando de uma figura que, não sei exatamente porque, tem povoado meus pensamentos nos últimos dias: Leonel de Moura Brizola.
Brizola era o tipo do cara que se amava ou odiava. Não tinha outra opção. Ainda mais pra mim, gaúcho de nascimento e fluminense de criação. E desde cedo mergulhei com gosto no brizolismo. Fui um militante alucinado da causa entre 1986, quando Darcy Ribeiro perdeu a eleição para o Plano Cruzado, até 1994, quando a votação pífia do"governador" para presidente foi a pá de cal no brizolismo.
Brizola não era perfeito nem santo. Mas eu não tenho um pingo de arrependimento pelos anos que dediquei a esse projeto. Pelo contrário. Se voltasse no tempo faria tudo de novo. E com mais força. Quando os petistas da época reclamassem que ele fazia alianças suspeitas eu diria "um dia voces estarão de mão dada com Sarney e Collor, aguardem".
Pra começar, sua vida pública durou 58 anos, de 1946 a 2004. Nesse meio tempo foi prefeito de Porto Alegre, governador do Rio de Janeiro (duas vezes) e do Rio Grande do Sul, deputado estadual (duas vezes) e federal. Nunca foi alvo de uma denúncia de corrupção. A imprensa, que o odiava profundamente, lançava suspeitas sobre seu patrimônio ser incompatível com sua renda. Mas denúncia nunca houve. Nenhuma.
Brizola é uma das poucas pessoas na história humana da qual se pode dizer que segurou um golpe militar sozinho. Não absolutamente sozinho: a população brasileira conseguiu impedir que o golpe de 1964 fosse o "golpe de 61". Mas as pessoas foram para a rua instigados por ele. O então governador gaúcho foi às rádios que aderiram á cadeia da legalidade e conseguiu mobilizar um país a garantir a posse de João Goulart.
Ninguém foi tão perseguido pela imprensa quanto Brizola. Quando ouço a patotinha governista reclamar de "perseguição da mídia" morro de rir. Amigos, a Globo tentou FRAUDAR uma eleição, a para governador do Rio em 1982, só para impedir a vitória de Brizola. Quem era vivo nos anos 80 e 90 se lembra perfeitamente que os ataques da Globo a ele faziam com que a Veja de hoje pareça simpática ao governo Dilma.
Mas o que realmente me toca é a questão da educação. Atenção para o que vou dizer: nenhum político da história deste país tem realizações maiores que a dele nesse campo. Como prefeito de Porto Alegre teve a indecência de construir CENTO E TRINTA E SETE ESCOLAS em um mandato. Repetiu o feito quando governou o Rio Grande do Sul, espalhando escolas pelo estado e dando início à tradição de excelência gaúcha na educação.
Mas a grande marca foi no governo do Rio, quando ao lado de Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer criou os CIEP's. Que eu me recorde, foi a única tentativa da história do Brasil em fazer uma revolução qualitativa na educação. A ideia era mudar o conceito de escola, transformada num espaço onde as crianças teriam aula, fariam esporte, teriam assistência médica, fariam todas as refeições do dia, etc.
Claro, muita gente não gostou. Os principais argumentos contrários eram: vai demorar muito pra construir CIEP's suficientes para todas as crianças, e eles eram caros demais. O primeiro é tão idiota que não merece resposta. Claro que demoraria. Mas aí por isso nunca vamos fazer nada? Aí que demora mesmo. O segundo merece um pouco de atenção. Mostra bem a visão que nosso país tem da educação.
Uma vez vi fazerem essa objeção a Darcy Ribeiro. E o genio respondeu como deveria. Com ar de completa incredulidade, perguntou: "você quer economizar com criança?". Aí é que está. Os CIEP's podiam ter todos os problemas. Mas eram uma tentativa, a primeira de todas, de mudar o conceito de educação. E ninguém quis saber. Ninguém quis discutir como fazê-los melhores. Só sabiam reclamar que era caro. Parabéns Brasil.
Pode ser que voce não saiba de nada disso, em especial se não é gaúcho ou fluminense. Normal. As duas grandes forças da política nacional de hoje eram rivais de Leonel Brizola. Não teriam nenhum interesse em relembrá-lo como o importante personagem que foi. Não me importo: é o jogo da política. Como todos nós historiadores sabemos, os vencedores escrevem a história.
O que me dói é a saudade de um tipo como aquele. Que nunca teve medo de dizer o que pensava. Que comprou todas as brigas que achava que devia. Que tinha a educação como prioridade. Com todos os seus defeitos, Brizola faz muita falta ao nosso país.
PS: abaixo, o momento mais importante da história da TV brasileira. Cid Moreira lendo direito de resposta de Brizola a Globo, que foi desancada em pelo Jornal Nacional. Em termos políticos, foi o dia mais feliz da minha vida



2 comentários:

  1. Pqp, não lembro disso! Que show deu o "velho senil"... Falou tudo que ainda hoje merece ser dito e repetido!

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  2. Olha, cara. Tive uma mãe diretora de Ciep, pais Brizolistas e tios educadores (obviamentes apaixonados em Darcy). Tenho toda obra literária do gênio aqui em casa. Se o projeto tivesse ido para frente, provavelmente dispensaríamos UPP's. Parabéns pela lembrança de grandes nomes da política nacional.

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