sábado, 7 de abril de 2012

Hoje acordei meio patriota



Uma das milhões de coisas que me fazem odiar a ditadura militar é o fato de eles terem banalizado o patriotismo. Sei bem como é isso. Nasci em 1972, fui da última geração criada sob o infame regime. O que significa que aprendi desde cedo que ser patriota era importante. Mas que diabos era ser patriota? Era nunca criticar nada que o governo fizesse, achar o Brasil o melhor país do mundo, em que os eventuais defeitos eram largamente compensados pelas coisas boas, e acima de tudo saber cantar hinos e chorar olhando a bandeira.
Previsivelmente, depois disso ser patriota passou a ser visto como coisa ridícula e reacionário. Se patriotismo é definido assim, então realmente é um negócio horrendo. Mas claro que tudo é questão de definição do termo. Poderíamos redesenhá-lo, não? Claro que sim, e fizemos isso. Esquecemos hino e bandeira, e nos apegamos a outras coisas. Agora ser patriota é usar verde e amarelo na copa, gostar de carnaval e odiar a Argentina. Só um pouquinho menos pior que a definição anterior. Ainda assim horrível.
Amo a Argentina, pra mim um país absolutamente maravilhoso, com o qual temos muito a aprender. Amo futebol, mas a seleção não me desperta nada há uns 10 anos. Detesto carnaval. Adoro reclamar do governo. E acho que temos muitas qualidades, das quais me orgulho, só que não consigo achar que ter praias lindas apague nossas mazelas, como uma educação horrorosa e uma desigualdade obscena. Não sou patriota em nenhuma das definições majoritárias, portanto.
Mas aí é que está: me considero totalmente patriota. Pra mim isso significa odiar profundamente tudo o que o Brasil tem de ruim, e desejar tão ardentemente que essas coisas melhorem. Vou sempre à Argentina e ao Uruguai, e tenho vontade de morrer. Esses países, bem mais pobres que o nosso, e piores que nós em muitas coisas, tem uma educação infinitamente superior, desigualdade de renda muito menor, IDH muito maior, índices de violência capazes de nos matar de inveja e povos absolutamente politizados e muito mais bem educados que o nosso. Na América Latina, terceiro mundão mesmo. Nada de Dinamarca ou Nova Zelândia. Logo aqui do lado.
Pra mim ser patriota é odiar esse estado de coisas. É não se conformar, como a grande maioria da população brasileira faz, em sermos um país de merda. É querer muito mais. É não deixar que um gaiato qualquer de camisa amarela botando uma bola dentro da rede me faça esquecer do crime que se comete contra nossas crianças nas escolas (públicas e privadas). É não deixar que um festejo carnavalesco me cegue ao fato de que a maioria das pessoas que estão lá sorrindo não tenham uma vida minimamente digna.
Me acho muito patriota, porque pra mim patriotismo não é dizer "sim". Pra mim ser patriota é amar o Brasil até a morte, sem diminuir nenhum outro país, lutando para que sejamos tudo o que podemos ser. E torcendo para que os outros países consigam isso também. Que o patriotismo canalha perca espaço, e que achemos que ser um grande brasileiro é estar disposto a tudo para que o Brasil seja o que merece. Só isso.
PS: e a propósito, duvido que algum país tenha tantos hinos maravilhosos como nós (à parte a absurda letra do hino nacional, que nenhum brasileiro sabe o que significa). cantar esses hinos com gosto bem que poderia ser algo a ser resgatado, desde que se elimine qualquer vestígio daquela versão militar do patriotismo.








2 comentários:

  1. Isso explica o Dom Pedro I no face, hahaha!!!!!

    Eu gosto da versão que a introdução é cantada.

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  2. Se for desta forma com que você desenhou, ou melhor, definiu como é ser patriota, desejo que, também, todos sejamos patriota assim. E viva o Brasil! E viva o povo brasileiro.

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