sábado, 21 de abril de 2012

Quando a MPB morreu

Como expliquei outro dia, tivemos show do Chico Buarque aqui no Recife na semana que passou, e eu não fui.  A princípio tentei explicar para as pessoas que me perguntavam os motivos da escolha. Mas ao fim desisti, e comecei a utilizar o argumento mais simples, o da minha muito conhecida aversão a sair de casa.
Me impressionou sobretudo o seguinte. Eu tentava explicar algo muito simples. Como disse no outro dia, acho que essa geração da qual Chico faz parte é a melhor da história da MPB, e que acho que eles fizeram coisas brilhantes, que jamais serão esquecidas. No entanto, há 25 ou 30 anos nenhum deles faz coisas do mesmo nível. Fizeram coisas boas, mas nada deslumbrante.
A mim parece uma coisa óbvia, que ninguém vai discordar. Qualquer pessoa que conheça a obra desses músicos vai concordar que o essencial delas está nos anos 60/70. Mas aparentemente uma ideia tão simples é excessiva para os fãs da MPB. O que eles entendem quando digo o que disse acima é: "esses caras são uns merdas que só fazem porcaria há 30 anos".
Evidentemente são coisas bem diferentes, o que digo e o que é compreendido. Descartando a hipótese de o interlocutor ser um completo imbecil, só sobra uma única alternativa. Esses caras (Chico, Caetano, Gil e Milton em especial) chegaram a um nível tal de sacralização que qualquer ressalva é vista como absolutamente intolerável. Qualquer coisa que não seja a adoração incondicional é vista como uma abominação, mesmo que seja uma simples constatação.
Lamento profundamente que tenhamos chegado a isso. Esses caras fizeram parte de um momento mágico da música brasileira, se envolveram em polêmicas musicais e políticas nos anos 60, eram pessoas combativas. Mas ao longo dos anos 70 foram se consolidando como "gênios intocáveis". E nos anos 80, exatamente quando suas carreiras declinaram em termos de qualidade, foram instalados num panteão de "deuses imexíveis".
De lá pra cá eles nunca pararam de produzir. Algumas coisas boas, outras nem tanto, mas sem dúvidas nada tão brilhante quanto o que fizeram antes. Só que é proibido dizer isso. Temos de ficar aqui fingindo que cada disco novo do Chico está repleto de canções do nível de "Roda Viva" ou "Construção", o mesmo valendo para os demais.
Pra eles está ótimo. Podem fazer qualquer coisa sabendo que jamais serão criticados. E se forem, um exército de adoradores perseguirá quem ousar um comentário não ortodoxo. Podem cobrar fortunas em seus shows, já que os membros da seita não se importam em raspar a conta bancária para se emocionar com músicas de 40 anos de idade e fingir que as mais novas são igualmente boas.
O único problema é que quem olha de forma independente para esse cenário apenas lamenta. Afinal, nada é pior para a criatividade de um artista do que a sensação de conforto. A certeza de que amarão qualquer coisa que ele fizer. Quando essa idolatria nasceu, essa geração morreu.

2 comentários:

  1. Ok, concordo com a sacratização. Concordo também que fizeram porcarias de um tempo para cá. Mas fizeram coisas boas também. Minha mãe me fez escolher entre ver Supertramp ou Chico Buarque uma vez. Escolhi Supertramp, e alguns amigos pseudo-intelectuais me disseram: "nossa! Chico é Chico, e o Supertramp já não é mais o mesmo". Acho que respondi de uma forma bem mais simples que suas palavras, mas com um teor parecido: "chico também não..." E isso há mais de 15 anos.
    Só gostaria de ressaltar que não chego ao ponto de não ter vontade de ir aos shows, ou de não arriscar a dar uma escutadinha no álbum novo dessa galera. São bons,e marcaram. Não pagaria fortunas, é verdade, mas me deliciaria ouvindo suas boas composições.

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