Debati esse assunto por alguns minutos com alguém que admiro, o comentarista Marcelo Bechler, da rádio Globo/SP. Ele me dizia: na Espanha é diferente, pois lá a unidade nunca foi um fato, certamente baseado naquela questão dos reinos de Castela, Aragão, etc. Isso faria da "Espanha" uma realidade muito menos palpável que "Brasil". Concordo no que tange à Espanha. Mas aqui é de fato tão diferente?
Não. Os historiadores até evitam hoje em dia usar o termo "Brasil colônia", já que o entendimento é que não existia Brasil nenhum antes de 1822. As várias regiões eram independentes umas das outras, todas se comunicando diretamente com Lisboa. O que havia era um pedação de terra que pertencia a Portugal. Por isso mesmo se prefere usar o termo "América Portuguesa". Na verdade ainda nem entendemos bem porque o Brasil não se fracionou em 4 ou 5 países no século XIX. Quem estuda aquele contexto percebe claramente que essa divisão era muito mais provável que a unidade.
E isso tudo pode não ser mais relevante, já que temos hoje o "Brasil" como uma realidade indiscutível. No entanto há algo que renova permanentemente o sentimento de distância: as diferenças econômicas gigantescas entre as distintas partes do país. Isso cria ressentimentos mútuos que parecem insuperáveis. As partes mais pobres acham que são assim por culpa das áreas mais ricas, que lhes roubam tudo o que produzem. As regiões mais ricas acham exatamente o oposto: que as políticas públicas para as regiões mais pobres drenam seus recursos, conquistados honestamente. Todos se sentem roubados pelo restante do país.
Aí temos dois milagres: termos nos mantido unidos e ninguém pensar em mudar isso. Isso mostra a força do discurso nacionalista entre nós. Nem a história nem os ressentimentos levam o país a um cenário como o espanhol. No século XIX foram as armas que sufocaram todas as rebeliões. Hoje em dia é o discurso do "Brasil brasileiro". Um acordo tácito de que o regionalismo é uma porcaria. Principalmente o dos outros, claro.
O que eles diriam da política do Rangers pré-1999? Como o catolicismo domina por aqui, não sei se com bons olhos...
ResponderExcluirTiago,
ResponderExcluirApenas uma ressalva: o Athletic não aceita somente jogadores bascos. Ele aceita jogadores de outros países que tenham se formado na região ou jogadores que tenham ascendência basca. Como exemplo, cito o caso do zagueiro venezuelano Amorebieta. Ele nasceu na Venezuela mas seu pai é basco.
Vai aí um texto do El País de 2008 que explica melhor como o Athletic está se preparando: http://elpais.com/diario/2008/01/31/deportes/1201734008_850215.html
Um abraço