terça-feira, 10 de abril de 2012

Por que não tivemos música de protesto?

Uma dúvida que me persegue é: por que não tivemos nos anos 60/70 uma tradição de música de protesto que fosse minimamente comparável à poderosíssima escola sul-americana desse gênero? Realmente não faz sentido. Nossa tradição musical é infinitamente mais rica que a dos vizinhos, e o contexto era exatamente o mesmo, com mínimas variantes regionais.
E ao contrário do Brasil os países vizinhos tiveram uma produção sistemática de canções, com toda uma geração de grandes artistas dedicando seus melhores anos a tentar ajudar a revolucionar seus países com sua arte. Geralmente através de canções que eram versões (modernizadas ou não) da música folclórica de seus países e letras muito politizadas, esses artistas foram dados essenciais de seu tempo.
E quando veio a noite da ditadura, todos eles pagaram muito caro, e tiveram de abandonar seus países no auge de suas carreiras e viver muitos anos de exílio. O maior nome da história da música popular uruguaia, o cantor Alfredo Zitarrosa, não apenas viveu uma década fora de seu país, como ainda viu a ditadura proibir a simples execução de suas músicas. Também viveram longos anos de exílio os chilenos do Inti-Illimani e do Quilapayún, a argentina Mercedes Sosa e os uruguaios do Los Olimareños, entre tantos outros. O caso mais dramático, obviamente, foi o chileno Victor Jara, brutalmente assassinado pelos carniceiros de Pinochet.
No Brasil nada disso aconteceu. Geraldo Vandré, que evidentemente era uma perfeita versão nacional dessa produção latino-americana, foi um cometa que se apagou após 1968. No mais tivemos "revoluções" (bem entre haspas mesmo) estéticas de curtíssima duração e moderadas tentativas de expressar insatisfação. E enquanto nossa ditadura vivia o máximo da violência, a MPB rapidamente se institucionalizava como a grande tradição musical do país. Se consolidava como uma genial produção, mas politica e esteticamente inofensiva.
Nada contra tudo isso. Essa geração de músicos brasileiros foi excepcional, e deixou uma produção absolutamente sem paralelo em termos de qualidade. Mas não acho que isso deveria impedir uma outra linhagem, mais confrontativa, politizada, de tom folclorista. As maravilhosas músicas de Vandré nos primeiros anos da ditadura mostram isso.











Um comentário:

  1. Pensava, até ler este texto que esta, foi a época da música brasileira de maior protesto, se bem que os hip hop, raps e rocks dos anos 90 e 2000 não deixaram de prostestar por nem um dia. Mesmo que tenha sido nos anos 60/70 nossa época mais intensa de protesto, o que você quis dizer é que o papo não foi tão reto usando suas metáforas e possibilidades artísticas?

    Numa música dos Bahianos e os Novos Caetanos, Chico Anísio diz: "Heroi é o cabra que não teve tempo de correr."

    Talvez se resuma nessa frase o sentimento dos nossos artistas que queriam ajudar, mas não queriam morrer como herois. Fizeram até onde puderam dentro dessas possibilidades e protestaram as vezes como se gritando com uma mulher mandona, um pai que dá um calçado menor, etc...

    De qualquer maneira, também não conheço nada da música sul americana a não ser um cado da brasileira, obrigado por apresentar!

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