sábado, 26 de setembro de 2015

Por que existem historiadores?

Antes de responder à pergunta proposta no título, vou dizer algumas coisas para as quais não servimos. Não damos lições para o futuro. O nome disso é cartomante. Não damos exemplos para a juventude se espelhar. O nome disso é família. Não somos juízes do passado. O nome disso é burro, idiota, ignorante ou débil mental. Pode escolher qualquer um que está valendo. Quem diz essas coisas não sou eu. São historiadores muito melhores que eu jamais serei, e que qualquer aspirante a historiador lê no primeiro semestre de graduação.

Uma das nossas principais funções é saber que as coisas não acontecem no vazio. Todas elas têm seu contexto. Por isso, e não por sermos comunistas é que abominamos o que uma certa direita anda fazendo com nossa profissão. Pegam coisas que aconteceram décadas atrás e as analisam como se elas tivessem acontecido hoje. Aí acham que Hitler era socialista, Dilma terrorista sem nunca ter participado de qualquer ação armada (mas por algum motivo Aloysio Nunes Ferreira, braço direito de Marighella e participante de várias ações não era), só o comunismo matou, enquanto o capitalismo sempre foi gente boa, e por aí vai.

Uma coisa muito difícil é saber até onde vão a burrice e a ignorância e onde começa a má fé. As duas coisas estão tão mescladas nesse combo de imbecilidade que é difícil discernir. E honestamente eu nem tenho interesse em fazer isso. Só estava pensando aqui em alguns contra-exemplos relacionados aos liberais. Sim, pois quem fala isso tudo aí se define como liberal, defensor da liberdade e da ausência do Estado na economia. Vamos então olhar para o passado liberal com os mesmos olhos deles.

Ao longo de todo o século XIX os liberais não queriam ouvir falar em povo votando. Fizeram tudo o que puderam para evitar o voto universal. Nos EUA e no Brasil defenderam a escravidão. Foram os esteios ideológicos da Primeira República, dominada por coronéis e voto de cabresto, em que o Estado usava todos os recursos que tinha para garantir artificialmente o preço do café. Apoiaram o golpe de 64 assim como inúmeras outras ditaduras latino americanas. Sabe quem era ministro do governo Castello Branco? ele mesmo, Roberto Campos, ídolo dos economistas liberais brasileiros.

Não julgo o liberalismo enquanto visão de mundo por nada disso. Primeiro pelo simples fato de saber que conceitos se materializam na ação de pessoas, necessariamente imperfeitas. Mais importante, porque sei que visões de mundo significam coisas diferentes ao longo do tempo. Não acho que o PSDB defende a escravidão porque sei que ser liberal no Brasil do século XIX não é a mesma coisa que ser liberal no Brasil de hoje. E finalmente, porque estudei. E não foi pouco. Caminho para um quarto de século dedicado à história. Não sou simplesmente um canalha ignorante que pensa que a história é apenas um meio para agredir seus adversários políticos. A história é minha vida.

Mas tem algo mais que eu aprendi com a história. E logo no primeiro semestre de graduação. Ela não é o estudo do passado, mas da mudança. Pois as coisas sempre mudam. Pior pior que as coisas pareçam, por mais negro que seja o cenário, por mais que pareçamos estar prestes a ser engolidos pela ignorância, a burrice e o mau caratismo, tudo é temporário. O sol nasce todo dia para todos. Fiquem atentos e fortes e se aguentem aí.

6 comentários:

  1. Ummmm, comparar o capitalismo com o socialismo em relação a morte de seres humanos, é o mesmo que atribuir a culpa de todas as mortes a Deus! O capitalismo não é uma ideologia tal qual o comunismo. Ele se desenvolveu junto com a sociedade! Prova, disso é que os teóricos do Capitalismo/liberalismo, apenas descreveram o que observaram, ao contrário de Marx que pregou "o fim da história". É tão absurdo comparar algo que só existe em abstrato com o mundo real, falho e factível, que vou parar por aqui. Socialismo é a religião civil dos frustrados, ressentidos e invejosos! Não estou com isso defendendo o capitalismo, pq como sistema econômico, ele é neutro. E se é ruim, é pq as pessoas são ruins, pq são falhas (diferente dos adeptos de Rousseau). São problemas de ordem moral e não de um sistema econômico.

    Obs: Eu realmente li um texto de um Dr em História que acredita que o PSDB é direita liberal?

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    1. Disse que são liberais, e eles proprios se definem assim. Direita ficou por sua conta.

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    2. O único partido que poderia se enquadrar na definição de direita e liberal era o PFL que por medo mudou de nome. O PSDB nunca foi liberal! Social democracia é esquerda em qualquer parte do mundo! Essa é a vantagem da esquerda no Brasil, só existem partidos de esquerda. Aliás, o próprio FHC levou Lula para o diálogo interamericano (Think tank) do Partido democrata americano. No Brasil não há disputa ideológica, más por cargos como disse certa vez um ex ministro do PT que esqueço o nome.

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    1. O sujeito acima (ACHELOGO é um "nome" bem estranho) acredita que o capitalismo é um sistema neutro, isento de cargas ideológicas. Não consigo mensurar tamanha ingenuidade!
      Em momento algum o Tiago Melo afirma que o PDBD é de direita, e sim liberais. Uma coisa não necessariamente está ligada a outra. O colega tá precisando aprender a interpretar um texto.

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    2. Não falei que é um sistema neutro, aliás nunca irá existir isso! Me parece que vc acredita em alguma espécie de paraíso terreno... O capitalismo não é obra de um "intelectual" como o sistema criado pelo barbudo alemão. Ele se desenvolveu naturalmente com a sociedade. Se vc me mostrar quem foi o teórico que escreveu o manifesto do partido capitalista eu me filio amanhã ao PC do B

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