segunda-feira, 14 de setembro de 2015

CPMF e a indignação seletiva

Vi algumas pessoas falando coisas tipo "os eleitores da Dilma deviam pagar pelo ajuste fiscal". O tipo de argumento que é tão coisa de débil mental que fica até difícil argumentar. A mesma lógica deveria significar que só os eleitores do PT poderiam fazer os concursos abertos nos últimos 12 anos, por exemplo. Que nos anos FHC deveria haver dois tipos de preços: uns para os eleitores do PSDB e outros, ainda com inflação, para quem não votou nele. Ah, claro, FHC também arranjou uma dívida externa enorme, que deveria ser integralmente paga por seus eleitores. E só quem votou nele deveria pagar os 26% de juros, que eram a taxa quando ele entregou o governo a Lula.

Sobretudo é um argumento de quem não entendeu o que é democracia. Não ouvi nenhum deles dizendo que só eleitores do Alckmin deveriam ter racionamento de água. Que só eleitores do Sartori deveriam ter parcelamento de salário. Que apenas eleitores de Sérgio Cabral e Eduardo Paes deveriam pagar pelos imensos gastos da Olimpíada. São simplesmente pessoas que não sabem perder. Não entendem que o jogo democrático é esse mesmo. Todo mundo vota em quem acha que deve, quem tem mais votos governa. Achar que o governo é horrível é direito de todos, pois graças a Deus e à luta de gerações de pessoas hoje vivemos uma democracia. E é ótimo que exista uma oposição crítica. Não me importo minimamente com a oposição tanto à direita como à esquerda fazer seu papel, que é criticar o governo.

Mas existe uma diferença. A oposição à esquerda critica muito. Às vezes concordo, às vezes discordo, mas eles respeitam o resultado das urnas. Nunca desqualificam os 54 milhões de eleitores que reconduziram Dilma à presidência. Em suma, fazem seu papel. O eleitor médio da oposição à direita não é assim. Acha que tem o direito de chamar a maioria de idiota, burra, vendida e ladra. Comparam o ato totalmente cidadão de votar naquilo que se acredita a ser um criminoso, só por a opção da maioria ter sido diferente da sua. Se comportam como crianças mimadas que querem levar a bola embora quando seu time leva gol. Quem não pensa como eles é um idiota vendido.

E aqui vale um parêntesis sobre o quanto nossas classes médias e altas são mimadas, verdadeiras crianças egocêntricas, quando falam de política. Desconhecem o conceito de bem comum, elemento chave da democracia. Só querem tudo para si. Quando não têm, ficam indignadas. Vou dar apenas um exemplo, as medidas de Fernando Haddad sobre o trânsito paulistano. Não moro lá, não sou especialista no assunto, não tenho capacidade para analisar se as medidas são corretas. Mas uma coisa eu sei. Xingar a "indústria da multa" quando você é pego por um radar andando acima da velocidade permitida não justifica. Você não sabia a velocidade máxima permitida? Não escolheu andar acima dela? Amigo, você escolheu correr o risco. Mas como são apenas crianças mimadas, botam a culpa nos outros. Claro. Nunca é culpa delas.

Bem, então vamos a CPMF. Mais um enorme erro político do governo, que a cada dia parece mais perdido que no anterior, se é que isso é possível. Num país em que há a percepção generalizada (correta ou equivocada, pouco importa aqui) de que se paga impostos demais para sustentar corrupção e privilégios, um governo no auge da impopularidade elege recriar um imposto como solução. Convenhamos, é implorar para ser criticado. Ainda mais com uma oposição tão raivosa que reclama de coisas absolutamente irrelevantes. Dilma deu a eles um prato cheio e eles não desperdiçaram.

No fim das contas a minha impressão é que a CPMF não volta, o governo não tem a menor condição de aprovar isso. Será apenas um desgaste político absolutamente idiota e desnecessário. O que chama muito minha atenção na verdade é ver mais uma vez como a indignação pode ser seletiva e violenta. Pessoas que pagaram CPMF sem reclamar durante os 8 anos de governo FHC e são simpatizantes do PSDB se pronunciando com ódio frente à possibilidade de o imposto voltar. São pessoas que achavam tudo bem termos juros de 26% ao ano, desemprego de 20% e inflação nos 10%, desde que seja no governo do partido em que votaram. O que me dá nojo nessa história toda é a indignação seletiva. A falta de espelho em casa. A total ausência de escrúpulos disfarçada de luta ética. O clima de "posso falar o que quiser desde que tenha tom de indignação contra o governo".

Fui contra a CPMF no governo FHC e sou contra agora. Fui contra o governo FHC se aliar com todo o lixo político do país e sinto o mesmo em relação à Dilma. Minha indignação contra a corrupção é rigorosamente a mesma quando se trata de Zé Dirceu ou Aécio. Se as pessoas que conheço e não gostam do governo fossem assim eu conversaria com eles, e certamente teríamos muito mais em comum do que de discordância. Mas eles não são assim. Ali só vejo indignação seletiva. Não têm água para tomar banho, não tem metrô, cuja entrega já foi adiada mil vezes, mas acham que só o PT não sabe administrar. Com gente assim não dá pra conversar.

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