sexta-feira, 11 de setembro de 2015

As delícias de ser privilegiado...

"A Europa deve aceitar os novos refugiados filhos do capitalismo global e herdeiros do colonialismo mas em troca deve fixar regras claras que privilegiem o estilo de vida europeu"

O que vai aí em cima é uma citação de Slavoj Zizek, darling da esquerda mundial nos últimos anos. Que elabora todo um discurso baseado em clássicos da esquerda ("capitalismo global", "colonialismo) para no fim deixar clara sua real preocupação. Gostamos dessas pobres vítimas, precisamos acolher todas elas, desde que não mexam com nosso maravilhoso mundinho.

Gozado é ver gente de esquerda defendendo isso, dizendo que ele se preocupa com o avanço de ideias racistas, sexistas e homofóbicas com a chegada desses imigrantes. Amigos, quem no mundo pode achar que europeus precisam de imigrantes para ensiná-los a serem racistas, sexistas e homofóbicos? Eles sempre foram assim. E quem, em sã consciência, acha que a principal bagagem desses imigrantes miseráveis, fodidos por uma guerra absurda, é essa? Baseado em que? Só no preconceito mesmo? Aparentemente sim.

Pois sentir empatia com os que sofrem é ter humanidade. Sendo homem branco hetero de classe média tenho o maior apreço por causas como o feminismo, o movimento negro, o movimento anti homofobia e outros que tais. Até aí tudo bem. Isso apenas significa que não sou um completo imbecil. Olhar no espelho e se ver como privilegiado, alguém que não chegou onde chegou apenas por seus méritos, mas por viver numa sociedade em que tudo te favorece, aí é outra coisa.

Vejo por aí um bando de homem privilegiado, principalmente caras que nunca tiveram com o que se preocupar na vida, se dizendo "feministas". E, tão acostumados estão com seu lugar privilegiado, que sequer conseguem entender como isso é ofensivo, como isso é pretender ser um dominante falando em nome de um subalterno que nessa visão não sabe se expressar sozinho. E há coisa ainda pior, homem querendo ensinar mulher a ser feminista, mas aí eu prefiro nem comentar. O tema aqui é "dominantes bem intencionados que não conseguem ver como sua posição é a posição dos dominantes".

Europeus causaram as maiores guerras da história da humanidade. Inventaram o racismo. Foi lá que fui chamado de "macaco" por gente que achou que eu não entendia a língua deles (claro, sul americano é tudo burro). Também foi lá que vi uma amiga me contando ter sido chamada de prostituta pela professora do mestrado por ser brasileira. Não me venham com essa de que europeus são menos preconceituosos e mais abertos não. Vão lá e vocês vão descobrir que não é por aí não. Europeus são mais ricos que nós, terceiro mundistas, e isso é fato. Mas não me venham com esse papo de que são mais abertos. Quem vota em Berlusconi, Le Pen e coisas do tipo são eles, não nós.

Mas um lado de mim entende o Zizek. Não passa dia que não ouça revolucionários desse tipo. A universidade tem milhões deles. Gente que se compadece genuinamente dos que vieram de baixo mas os olham com olhar superior. Não é por mal. Sei que não é. Estamos falando de perspectiva de classe. É disso que se trata. Quem é privilegiado nunca vai olhar o subalterno como igual. Porque não é mesmo. O professor universitário que sempre teve a barriga cheia e nunca se preocupou com nada nunca vai olhar o aluno favelado e ver um igual. E nem pode. Pois não é mesmo.

Do seu ponto de vista privilegiado, Zizek acha que imigrantes são todos mutiladores genitais com turbantes que adoram um Deus estranho e é preciso salvar o "estilo de vida europeu" desses bárbaros. Claro. Ele é um europeu. Foi treinado desde sempre para pensar assim. E mesmo um historiador não particularmente marxista como Carlo Ginzburg já colocou esse tipo de coisa em termos de "não se escapa de sua experiência de classe". Ele está apenas sendo o que é: um europeu privilegiado. Já não tenho a mesma compaixão de gente subalterna que vê o mundo com esses olhos. Aí já acho coisa de otário mesmo.

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