Como qualquer pessoa minhas primeiras experiências com o sexo oposto foram familiares. A começar com minhas avós. Que nunca poderiam ter um discurso feminista. Eram camponesas analfabetas. Mas cada uma a sua maneira me ensinaram muito. Minha avó paterna tinha marido. Se adequava à sociedade patriarcal, inclusive por que não havia outra opção. Com ela aprendi que os subalternos podiam agir nos detalhes, no que não era dito. Como historiador eu aproveito muito isso (e os doces dela eram fenomenais, e nem quero pensar na farofa que ela fazia, a melhor da história)
Minha avó materna era diferente. Perdeu o marido muito cedo, aos 40 anos. Foi uma monstra, uma guerreira suprema. Nessa situação o espírito camponês teve um efeito muito pragmático. Assim como minha avó paterna não consigo reconhecer nela o retrato que os filhos pintaram de uma mãe muito exigente e dura. Pra mim foi uma avó absolutamente permissiva. Assim como minha outra avó, ela só queria fazer coisas que os netos gostassem. Lindamente se permitia cometer transgressões em todas as regras quando nossas mães não estavam olhando.
(um parêntensis. minhas duas avós não estavam nem aí para o que os filhos queriam para os filhos. queriam mais é avacalhar todas as regras, pois sabiam que isso não tinha importância, e por isso são responsáveis por muitas das melhores lembranças da minha vida)
Minha mãe é diferente. Não apenas por ser mãe. Me teve num momento muito difícil. Mas como diz uma amiga minha ela foi uma leoa. Naquele contexto horroroso, com aquela ditadura de merda ela me fez acreditar, com toda a justiça, que ela nunca deixaria nada acontecer comigo. E não aconteceu mesmo. Ela me ensinou algo muito importante: "ninguém mexe contigo quando eu estiver aqui" não é só uma frase, é um jeito de fazer com que as pessoas por quem você é responsável se sintam seguras.
Minha filha é de outra época e lida com outras questões. Pra ela a experiência camponesa das minhas avós é muito distante e não diz nada. Ela é jovem, tudo é urgente pra ela. Morre de raiva de mim por ser tão lento, burro e velho. Gosta de umas cantoras que eu na verdade nem sei quem são. Fica super desconfortável por eu ficar andando de samba canção em casa. Pra ela sou um velho burro que ela ama incondicionalmente. Finge que não, mas ouve meus conselhos, minhas opiniões, e me tem na conta de algo muito melhor que sou na verdade.
Falei de tudo isso para exemplificar o quanto aprendi com as mulheres da minha vida. Desde a zona rural do Vale do Paraíba, passando pelos bairros industriais de Volta Redonda e desembocando no Recife, minha vida sempre foi ligada a mulheres muito fortes e guerreiras, que desafiavam, cada uma a sua maneira, o estereótipo da mulher submissa.
Sou homem. Não tenho qualquer expectativa de saber o que é estar do outro lado. Tenho certeza que jamais entenderei o que é isso. Mas gosto de pensar que ter tido todos esses exemplos dentro de casa me fez alguém que ao menos consegue entender o quando precisa aprender sobre o assunto. Já seria alguma coisa.
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