terça-feira, 26 de novembro de 2013

Aprendendo a ter amigos


Este post, diferente do padrão geral do blog, não é sobre temas públicos, principalmente política. É algo bem pessoal. Quem não tiver nenhum interesse em saber o que penso sobre esse tipo de coisa, fique a vontade para não perder tempo. Para quem quiser seguir lendo aviso que os protagonistas do post estão na foto, tirada em 1990, quando íamos dançar valsa na festa de 15 anos (ai, ai, ai) na festa de uma querida amiga. Estou no centro. Zé, de óculos, à esquerda da foto. Brexola à direita.

O tema veio por uma sequencia de fatos. Os mais recentes: 1) Ontem jantei com meu velho amigo Zé, que não via ha alguns anos; 2) Acordei e vi esse texto absolutamente maravilhoso (http://anivelde.org/sorryperiferia/2013/11/25/andre.htm) sobre a morte de um amigo do autor. No auge da vida. O que evidentemente remeteu ao jantar de ontem, pois foi aí que me dei conta de que havia um sujeito oculto em toda a conversa: nosso amigo Brexola, com quem compunhamos o trio mais infernal e inseparável da Volta Redonda oitentista.

Brexola caiu morto no meio da rua em 2008. Não tinha nada. Estava com 35 anos, assim como eu. Recebi a noticia lá pelas 10 da noite. Minha lembrança seguinte é estar sentado nua rua a dois bairros de distancia do meu. Isso já eram mais de 7 da manhã. Ou seja: tive um black-out, o único da minha vida que não tinha relação com o consumo de álcool. Compreensível: aquilo era tão inaceitável que meu cérebro simplesmente não conseguia processar.

Ainda não conseguiu, na verdade. Nunca mais consegui conviver com as pessoas do grupo que fazíamos parte, que me acompanhou dos 6 aos 19 anos em absolutamente tudo. Caras que cresceram comigo, que vivenciaram comigo toda a experiência formativa para a vida adulta, os melhores amigos do universo. Não consegui manter contato com eles. Sem o Brexola não dava. Ir a Volta Redonda visitar minha família já é duro demais. Na casa dos meus pais eu vejo a rua em que brincávamos. Vejo o portão da casa dele, onde ele estava quando trocamos o primeiro olhar, ainda na década de 70. Não dá. Simplesmente não dá.

Mas ao que parece a vida está tentando dar um jeito de me fazer entender que é possível seguir em frente. Tenho tido a oportunidade de reencontrar pessoas de outras épocas que nem eram tão próximas, mas que após uma conversa viram amigas. O tempo nesses casos foi bem legal conosco: fez pequenas implicâncias parecerem tolas (o que sempre foram) e ressalta o que há em comum, até porque são pessoas que conheço há muito tempo, o que gera mais confiança. Houve até um caso de mudança radical. Uma conversa fez a pessoa que conheço há décadas simplesmente parecer outra. Em suma, perdemos pessoas mas ganhamos também. Até novos/velhos amigos aparecem.

Aí ontem saí com o Zé. Está em Recife para resolver alguns problemas e só tinha a oportunidade de um jantar comigo. Saímos, e na verdade conversamos bem pouco. Conheci a mulher e o filho dele, e dei mais atenção a eles. Ao chegar em casa entendi o que tinha acontecido. Quando voce está com quem é seu melhor amigo há mais de trinta anos, a conversa é completamente irrelevante. Não importam os anos sem se ver, onde você está, não importa nada. Importa a incomparável sensação de estar ao lado de alguém a quem você entregaria sua vida sem nenhum medo. Aquela sensação e tranquilidade e conforto que ninguém no mundo vai conseguir proporcionar.

Amigos vão e vem. Mas tem os que sempre estiveram e sempre estarão. Só falta providenciar um jeito de os membros de todas essas categorias de amigos não morrerem nunca.

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