segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A indigência de um debate radicalizado


Há muito tempo a política brasileira não vivia um clima tão radicalizado. Desde 1964, para ser exato. O cenário se desenhou no governo FHC, quando o PSDB conseguiu costurar uma enorme aliança de centro-direita, ficando o bloco progressista liderado pelo PT basicamente como o "dono da oposição". De lá para cá esse cenário não mudou tanto assim. Apareceram várias propostas de "terceira via", mas que na verdade nunca passaram de projetos individuais (Ciro Gomes, Garotinho, Marina Silva, Eduardo Campos) travestidos de "renovação". E fica por aí.

O desenho mudou pouco, mas o clima ficou muito mais pesado. Cada dia mais é difícil encontrar, em qualquer posição política, gente preocupada com algo mais do que demonizar o inimigo. Me parece que isso tem três motivos. O primeiro, claro, é o fato de que a oposição à direita tem todo o poder econômico do universo, e pode gritar a vontade. A segunda, é que se criou uma oposição à esquerda, a maioria formada por desencantados do PT. Como concorrente do partido do governo na luta pelos votos progressistas, não perdoam o lulo-petismo, especialmente por sua inconsistência ideológica. O terceiro motivo: ao mesmo tempo que chora o fato de ter boa parte da imprensa contra si, o governo conseguiu criar uma rede, digamos, alternativa, de informação, que defende seus interesses. Claro que tem menos alcance que os veículos oposicionistas, mas é alguma coisa (ao contrario do governo FHC, em que era quase impossível achar qualquer coisa na mídia que não fosse defesa do governo).

O problema aí não foi essa diversificação, que é boa. O diabo é que a maioria dos envolvidos no debate quer ganhar no grito. A imprensa oposicionista passou a abrir cada vez mais espaço para tipos absolutamente raivosos, que não têm qualquer pretensão de análise, só querem gritar. O governo também recrutou uma respeitável linha de frente para lhe defender. A oposição à esquerda luta com as armas que têm, em particular as redes sociais e blogs.

O que argumenta a imprensa oposicionista, em especial a mais hidrófoba? Variações em torno dos temas: mensalão, Hugo Chávez, populismo, demagogia. Sempre foi assim. Todos os governos latino-americanos da história que não rezaram pela cartilha das elites foram chamados de corruptos, demagogos, populistas e assistencialistas. Ganham eleições porque o povo é retardado mental e vota com o estômago.

Entre os governistas o argumento básico é: tudo culpa da mídia governista. Mensalão não existiu, todo mundo foi condenado sem provas, o PT está revolucionando o país e isso incomoda as elites. Decisões políticas e ideológicas grotescas? Não, alianças necessárias para mudar o país. E quem discorda é reacionário. E todas eleições que o PT perdeu, e todas as que vier a perder, são por causa da mídia. O povo, retardado outra vez, não sabe o que é melhor pra ele.

A oposição de esquerda em sua maioria pouco consegue sair dos seus próprios chavões. PT e PSDB são iguais, ambos neoliberais, estão iludindo as pessoas (que mais uma vez são retardadas) com essa briga, que na verdade é disputa entre iguais. O remédio é socialismo democrático, seja lá que diabos eles querem dizer com isso (não gostam muito de explicar).

Então é o seguinte: quando me perguntam como me informo respondo que não leio nada, exceto links recomendados por pessoas confiáveis. Parece niilista (em parte é mesmo), mas não vejo escolha. Ler essas coisas histéricas, rasas, que só tem a finalidade de dar argumentos para as respectivas militâncias? Tô fora.

PS: você lê textos desse tipo sabendo que vai odiar, só para passar raiva, xingar o autor nos comentários e postar o link nas redes sociais dizendo "olha que absurdo"? Parabéns, voce está contribuindo para tudo isso. Engorda o número de acessos, compartilhamentos e comentários dessas idiotices, que é do que eles vivem. Sinto lhe informar, mas você e um idiota poluindo o facebook dos seus amigos com chorume. Abraços.

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