quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A culpa é do Sarney


José Sarney é uma figura muito fácil de detestar. Representa praticamente tudo o que qualquer pessoa sensata abomina na política: falta de coerência ideológica, adesismo a qualquer governo, apoio à ditadura, corrupção, coronelismo político, etc. Até aí acho que estamos todos de acordo. Mas deixa eu fazer uma pergunta.

Já ocorreu a você que o Sarney nada mais é do que um senador pelo estado do Amapá? Por que diabos um parlamentar de um dos estados menos importantes da federação tem tamanho poder? Será que você já pensou nisso? Por que ter ele no governo foi importante para todos os presidentes que tivemos nos últimos 20 anos? Quantos parlamentares do Amapá foram presidentes do congresso e tiveram força para colocar ministros em governos de todas as colorações políticas? Só ele. Por que?

Pelo seguinte. Sarney tem uma imensa rede de apoios. Parlamentares de todas as instancias estão com ele. Essa é a força dele. Mas você, caro leitor, pode deixar de lado seu senso de superioridade. Esses parlamentares não são apenas do Amapá e do Maranhão. É gente de todo o Brasil. Eleita por praticamente todas as unidades da federação. Inclusive, com toda a probabilidade, aquela em que voce mora.

Funciona assim. Você xinga o Sarney, diz que político é tudo igual, que todos os partidos são a mesma coisa. Aí vota em qualquer um que aparece. Nem olha o partido do seu candidato, já que é tudo a mesma coisa. Seu candidato não se elege, mas seu voto ajuda a colocar no congresso alguém que você não sabe quem é. Esse alguém apóia o Sarney. Logo, quem faz o Sarney ser tão poderoso é... você, que odeia o Sarney.

Odiar o Sarney e tudo o que ele representa é ótimo. Qualquer um concorda com isso. Dificil é acompanhar a política, entender nosso sistema partidário e votar de maneira a minimizar a existência de gente como ele no congresso. Entender quem está de cada lado, o que cada um representa e as consequencias do nosso voto dá trabalho. Aí pra muitos é melhor mergulhar na hipocrisia. Ser indignado, xingar o Sarney e garantir a perpetuação de gente como ele no poder.

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