domingo, 1 de dezembro de 2013

Direita e esquerda

Este post é motivado por debates com meus alunos. Sempre eles. Sempre me incomodando com perguntas. Sempre me fazendo pensar e aprender. Num minuto estou falando do processo de modernização latino-americano no século XIX. No outro estou num debate puxado pelos alunos sobre o que é ser de direita e esquerda na América Latina de hoje...

O que disse a eles foi: só é difícil definir direita e esquerda se você tiver a cabeça fixa num manual. Aí fica dificil mesmo. Aí a América Latina não tem direita, centro, esquerda, liberalismo, neoliberalismo, social-democracia nem nada. Na verdade é exatamente isso o que pensam os bobões que gostam de babar pelo primeiro mundo. Como nenhuma dessas coisas existe aqui do mesmo jeito que no Atlântico Norte, acham simplesmente que estamos errados, que somos gentinha, etc. etc.

O que também ajuda a confundir é que termos como direita e esquerda mudam dependendo do contexto. Há as agendas específicas de um país ou região. Há as épocas também. E os contextos políticos: as mesmíssimas politicas sociais do governo FHC (cotas, benefícios para os mais pobres) foram ampliadas no governo do PT e hoje são odiados pela direita brasileira. Sem falar que também há equívocos conceituais muito difundidos, como achar que esquerda e socialismo são sinônimos.

Eu vejo esse tema da seguinte forma: direita e esquerda não existem no vácuo. Pelo contrário, se definem em termos relacionais. Ou seja, só se é de direita e de esquerda em relação a alguma coisa em algum determinado contexto. Por exemplo: se voce for alinhar as forças políticas existentes no Brasil de hoje, Dilma e o PT estarão do lado esquerdo. Então são de esquerda nesse cenário.

Pode parecer simples. E é mesmo. Mas quais são as alternativas? A principal, e infelizmente muito comum, é se manter preso a definições abstratas que nunca existiram em lugar nenhum. Aí fica assim: como Margaret Tatcher nasceu na Inglaterra não existe direita nem neoliberalismo no Brasil. Como Marx e Lenin também não nasceram aqui, não temos esquerda. Não temos nada, somos um país de merda, tudo isso por não nos encaixarmos em manuais que foram feitos pensando em outros países. Aí é dose.

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