sábado, 5 de outubro de 2013

A Aposta de Marina

(caros, não tenho a pretensão de imitar Saramago. Meus textos estão saindo sem parágrafos por motivos alheios à minha vontade. Desde que saí do Brasil está assim e não consigo resolver. Agradeço a paciência dos amigos) A notícia de que Marina Silva vai se filiar ao PSB e deve ser a vice de Eduardo Campos é disparada a grande novidade do cenário eleitoral. E é uma novidade muito surpreendente. Marina Silva passou os últimos 5 anos construindo cuidadosamente a ideia de que nada tinha a ver com os demais políticos. E agora se filia a um partido sem nenhuma ideologia. Naturalmente a primeira tendência é achar que ela joga seu capital político fora, ao apoiar um candidato comum, correndo o risco de ser a grande patrocinadora de uma campanha que não vai decolar. Isso reduziria a pó suas esperanças de ser presidente do Brasil. Pode ser exatamente o que vai acontecer. Mas pode ser que não. Os cálculos dela fazem algum sentido. Certamente Marina avaliou que ficar de fora das eleições reforçaria a ideia de que ela é coerentemente alheia aos partidos tradicionais. Mas poderia ter um custo político muito alto: o esquecimento. Seriam oito anos sem disputar eleições nem ocupar cargos. Novas lideranças poderiam surgir e ocupar seu espaço de "musa dos cansados". O risco era alto, e ela não quis correr. Ou seja, ela ficou em uma verdadeira sinuca. Manter a postura que lhe deu notoriedade poderia ser danoso a longo prazo. Trair essa coerência poderia ser ainda pior. Convenhamos: ela estava numa sinuca. E se era para ela aderir a alguma candidatura, Eduardo Campos era a única opção. Dilma e Aécio são identificados demais com o cenário político atual, representando os partidos que hegemonizam a política brasileira nos últimos 20 anos. O cálculo certamente é: sendo seu eleitorado majoritariamente muito despolitizado, não conhece o governador de Pernambuco, e portanto não o associa à política tradicional. É jovem, tem olhos claros, virá certamente com um discurso de quem quer renovar a política, etc. A aposta de Marina é que seu apoio cacife Eduardo Campos a disputar pra valer a presidência, o que lhe colocaria em ótima posição. Em especial se Eduardo brigar no topo, mas não conseguir vencer, deixando o caminho livre para ela em 2018. Esse é o cenário dos sonhos de Marina. Há também a chance de dar tudo errado. O Brasil perceber que Eduardo Campos, a despeito das aparências, é membro legítimo da linhagem de coronéis nordestinos, ainda que com imagem de bom moço e discurso de tons liberais (pensando bem, se parecendo cada dia mais com o Collor de 1989). Isso poderia levar a candidatura dele a não decolar, e arranharia muito a imagem de Marina. Seu discurso de "não faço parte da política" seria trucidado, e seu prestigio sofreria um forte abalo, ao patrocinar uma candidatura fracassada. Em suma, o risco é alto. Marina partiu para o tudo ou nada. Em um ano saberemos se a aposta deu certo ou não.

2 comentários:

  1. Sugestão amigo, tenta escrever no Word, depois copiar e colar no blog, enquanto não retorna ao Brasil. Abraço!

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  2. Acho pequeno e completo seu texto. Vou tentar me identificar se não conseguir saiba que sou eu, a mãe te acompanhando.

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