domingo, 29 de setembro de 2013

O Brasil visto de fora

Uma coisa extraordinária de sair do Brasil é o deslocamento que isso nos proporciona. Coisas que temos como naturais e imutáveis, encaradas a partir de outra realidade, passam a ser vistas como o que são: construções sociais que existem por nossa opção, e por nossa opção podem ser mudadas quando quisermos. É, a meu ver, a grande vantagem de conhecer culturas diferentes. Não o que se aprende de novidade, mas sim o novo olhar que a experiência proporciona em relação a nós mesmos. Vou escrever um pouco sobre isso nos próximos dias. Começo falando de futebol, mas não estritamente sobre isso. Quem não se interessa pelo assunto pode seguir a leitura sem stress. Vi dois jogos no estádio. Torino X Verona e Torino x Juventus, ambos no Estádio Olímpico de Turim. Jogos fracos. O primeiro, um encontro entre duas equipes da metade da tabela do campeonato italiano. A maioria dos jogadores não teria a menor chance em clubes grandes brasileiros. Teriam que se contentar com times fracos da primeira divisão ou até atuar na série B. Vi jogos na nossa segunda divisão melhores que esse de quarta feira. Hoje vi o clássico Torino x Juventus, um encontro entre um time fraco e outro forte, mas desfalcado de um par de jogadores importantes. Foi melhor que o de quarta, mas fraco. Todo domingo vemos no Brasil jogos melhores do que esse. Há mais. Há torcedores organizados violentos, tal como aqui. A imprensa, então, é um capítulo à parte. Na quarta usei minha credencial de jornalista para ver o jogo da tribuna da imprensa. Os caras literalmente se comportam como torcedores. Na minha frente um radialista várias vezes passou a palavra ao repórter de campo, fechou o microfone e danou a xingar o juiz, algo que nunca tinha visto. Ou seja, nada muito empolgante. Mas a experiência de ver o jogo é completamente diferente. Voce compra ingresso antes, com lugar marcado, não enfrenta fila para entrar, não é incomodado, não paga preços exorbitantes por comida e bebida, pode chegar faltando 1 minuto para começar o jogo e estar sentado quando a bola rola. O estádio não tem nada de espetacular mas é confortável e bem cuidado, o gramado é excelente e o placar eletrônico dá todas as informações necessárias. Em suma, o espetáculo em si é o que temos aqui, ao menos os jogos que vi. Mas a vida do torcedor é mil vezes melhor. E eu me pergunto: é impossível fazer isso aqui? Até onde me dou conta, das coisas que vi no estádio e que são melhores do que temos no Brasil, nenhuma depende de grandes investimentos. Por que não fazemos? Por que nós, torcedores, aceitamos passivamente sermos tão maltratados, apesar de sermos consumidores que financiam o espetáculo? Somos um país mais pobre que a Itália. Não dá para querer que nossos times tenham jogadores como Buffon, Pirlo, Balotelli e outros do tipo. Mas convenhamos: não precisa ser um país de primeiro mundo para organizar decentemente uma partida de futebol e dar conforto ao torcedor, certo?

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