quarta-feira, 4 de setembro de 2013
A Surpresa em relação a Obama se justifica?
Vejo um crescente aborrecimento mundial em relação à política externa do presidente Obama. Claro, me refiro aos setores progressistas. Guantánamo está lá como sempre, violando os mais básicos direitos humanos, dissidentes que expõem as entranhas do sistema são caçados mundo afora, e estamos perto de ver a invasão de um país que nada fez contra os EUA. O tipo de coisa que se esperaria de Bush, mas não de Obama.
Ou será que deveríamos esperar isso mesmo? Analisemos aquelas que me parecem ser os fundamentos da ideia de que a política externa de Obama seria diferente.
1) Obama é democrata.
De fato democratas são mais progressistas que republicanos, e os partidos possuem divergências históricas em inúmeras questões. Democratas sobrevivem dos votos de operários, mulheres, intelectuais e minorias. Republicanos se refastelam no voto de fazendeiros, empresários, conservadores, religiosos e racistas. Ou seja, são partidos diferentes sim. Mas isso necessariamente levaria a uma política externa diferente?
A história não dá suporte a essa esperança. Presidências democratas se mostram historicamente intervencionistas e patrocinadoras de brutalidades e quebras da democracia. Harry Truman foi o único ser humano na história humana a ordenar o lançamento de bombas atômicas em alvos humanos. John Kennedy tentou invadir Cuba, criou o embargo contra o país e lançou o mundo na crise dos mísseis, que por um triz não chegou à 3a guerra. Lyndon Johnson patrocinou diversas quebras democráticas na América Latina, como as derrubadas dos presidentes João Goulart (Brasil/64) e Arturo Illia (Argentina/66).
2) OK, os democratas não são essa maravilha em política externa, mas esperava-se mais de Obama.
Esperava-se mais por que, exatamente? Porque Obama era jovem, negro, sorridente e carismático, prometendo ser a renovação que os EUA precisavam após os pavorosos anos Bush. Aqueles anos foram miseráveis para qualquer ser pensante, que nós respiramos aliviados com a chegada de Obama. E exatamente aí me parece estar o ponto para refletir.
Será viável esperar que algum presidente norte-americano (qualquer um) não seja intervencionista, não se meta onde não foi chamado, que, em suma, respeite sempre a soberania dos demais países?
Pra começar, deixemos de ingenuidade. Todos os países se metem onde podem. O Brasil se mete nos assuntos internos dos países vizinhos sempre que acredita ser conveniente. Ajudamos a derrubar, restaurar e colocar no poder governantes na nossa vizinhança um incontável número de vezes. No mundo real, essa é a lógica. E os EUA são a maior potência mundial. Então sempre haverá a tendência a intervir, independendo do nome e filiação partidária do governante de plantão.
E qualquer pessoa medianamente bem informada sabe: a cultura política norte-americana inclui a crença de que eles são os responsáveis supremos para garantir a democracia e a liberdade no mundo. Além do que, é um país com interesses econômicos espalhados pelo globo e a maior força militar do planeta.
Tendo em vista isso tudo, me parece que é muita ingenuidade esperar que um governante norte-americano não vá fazer coisas como as que Obama faz. A questão não é ele. A questão é entender que no mundo real as coisas funcionam sob uma lógica muito diferente daquela que gostaríamos.
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