terça-feira, 17 de setembro de 2013

Por que não teremos um golpe


A crescente radicalização da política brasileira (e latinoamericana), com dois lados se odiando cada dia mais, tem levado muita gente a temer a possibilidade de mais um golpe de estado. Entendo a preocupação, já que somos um continente com um longo histórico de instabilidade política. Mas não vejo nenhum motivo para que algo assim aconteça.
Nesse ponto, a história brasileira se assemelha à dos vizinhos. Após a enorme instabilidade do século XIX, marcado pela consolidação dos estados nacionais, no século XX a grande maioria das quebras da normalidade democrática se deram em dois momentos muito específicos: a ascensão do autoritarismo anti-liberal no entre guerras (um fenômeno mundial) e o contexto da guerra fria, em que os EUA patrocinavam ditaduras mundo afora para barrar o comunismo.
Nesses contextos havia elementos que não existem hoje. Nos anos 30/40 havia o descrédito generalizado no liberalismo, e a democracia passou a ser vista como algo pouco relevante, em um momento em que se salvar da catastrófica crise econômica era o mais importante. Não há nada parecido hoje.
A geração seguinte de golpes em massa tinha outra característica. Os EUA estavam dispostos a tolerar de tudo para impedir a repetição da Revolução Cubana em seu quintal. Os militares, fortemente ideologizados, tinham um projeto de nação, que não se resumia a bloquear o comunismo. No caso brasileiro, a manutenção do nacional-desenvolvimentismo, mas com "segurança" (leia-se: sem sindicatos, críticas, oposição, etc.)
Não é o caso atual. A América Latina não é o foco das preocupações norte-americanas, e na verdade os governantes de lá estão felizes de entregar ao Brasil o gerenciamento da geopolítica regional, para não ter de lidar com isso. Os militares não se vêem nem são vistos pela sociedade como atores políticos, e não têm nada parecido com um projeto para o país.
E há mais. Por mais que seja agressiva com o governo, a oposição brasileira não tem nada de golpista. Por mais que os defensores mais histéricos do lulo-petismo vejam golpismo na oposição brasileira, ninguém em sã consciência pode imaginar Marina Silva ou Aécio Neves apoiando uma quebra da normalidade democrática. Isso simplesmente não vai acontecer.
Existe sim, uma oposição raivosa. Mas mesmo sendo eleitor do governo petista, tenho de reconhecer: não é esse o papel dela? Não era isso o que fazíamos nos anos 90? Tenhamos autocrítica: criticávamos inclusive as coisas boas do governo FHC, pois estávamos na oposição. Não podemos reclamar de eles fazerem isso hoje em dia.
Sobram os protestos, dos indignados, cansados, moralistas, e sei lá o que mais. Mas ali não há nada para embasar um golpe. Não há armas, projeto político (a agenda é puramente negativa), ideologia ou políticos que verbalizem a causa (que também não existe). Os democratas podem dormir em paz. Um golpe simplesmente não é uma possibilidade atualmente.

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