terça-feira, 20 de maio de 2014

Comunismo assassino x Capitalismo libertador?

Como argumentei no post anterior, existe no Brasil atual uma série de gurus (?) intelectuais (??) da direita que abastece a militancia oposicionista com argumentos (???) pretensamente sérios. Em alguns casos a coisa é tão caricatural que nem merece discussão, como "Mandela era terrorista" e "Hitler era socialista". Talvez mais perigosos sejam argumentos, nada originais, já que pescados da guerra fria, que visam caracterizar o liberalismo como única plataforma que garante a liberdade humana, tacando a pecha de "comunistas assassinos" em todos os que se opõem a ele.

A coisa já começa muito mal, pois pretende desenhar o governo petista como "comunista", o que (infelizmente pra mim) nem chega vagamente perto de ser verdade. Mas vira uma idiotice total quando vemos o grau de descontextualização histórica presente nele. Afinal, a comparação presume que todos os regimes capitalistas foram lindamente democráticos. Proponho então uma comparação bem simples. O regime dito socialista que mais tempo durou foi o soviético: 74 anos. Onde será que estavam os regimes liberais após esse período?

Se tomarmos os EUA a partir da Declaração de Independência, isso nos levaria a 1850. Quando metade do país aceitava (e defendia ardorosamente) a escravidão. Na verdade o país só se libertou de vez da desigualdade de direitos após 190 anos, com o triunfo do movimento pelos direitos civis. Até ali, queimar e castrar negros era algo que se podia fazer a vontade em parte substantiva do país.

Vamos à Inglaterra. Se tomamos como base 1770, ano que a maioria dos historiadores considera o início da Revolução Industrial, chegamos ao ano de 1844. Nesse ano exato Friedrich Engels publicava seu seminal A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, em que pinta um retrato devastador das condições de vida da classe trabalhadora. Na qual era comum morrer aos 30 anos e ver um filho a cada três chegar à idade adulta. Tá, você não acredita no que diz um comunista. Então vamos a um dado. Em 1832, sob gigantesca pressão da opinião pública, um parlamento muito relutante havia aprovado uma reforma eleitoral. Que "expandiu" o direito de voto a 1 em cada 6 homens adultos. 800 mil pessoas estavam aptas a votar num país de 15 milhões de pessoas.

Atravessemos o canal da mancha e vejamos a situação da França. O país tem o ano de 1789 como marco, o que nos leva a 1863. Naquele tempo o país vivia uma monarquia absoluta e obscurantista comandada por Napoleão III. Na verdade, 74 anos após a Revolução Francesa, o país vivia um regime que, em termos políticos, diferia pouco ou nada em relação àquele derrubado pelos "enfants de la patrie" ainda no século XVIII.

Na verdade, quando pensamos em Inglaterra e França a coisa fica muito pior se pensamos que esses foram os mais importantes países imperialistas. Essas colônias eram território pertencente aos impérios. E se formos aos anos que marcaram o desmoronamento desses impérios chegaremos a 1947, quando a Índia ficou independente, 177 anos após o início da Revolução Industrial, e 1962, quando a Argélia se livrou do domínio francês, 173 anos após a queda da bastilha.

Em suma, a história nos mostra que, mesmo nos países onde foi gerado, o capitalismo só pôde se orgulhar de ostentar uma liberdade juridica 170-190 anos depois de aparecer. Nem falemos de outras grandes bandeiras do liberalismo que sequer chegamos perto de conhecer. Ou você seria capaz de nomear uma única fração do planeta em que exista algo vagamente parecido com a igualdade de oportunidades?

Eu não me identifico minimamente com o que aconteceu nos regimes ditos socialistas. Acho que alguns deles tiveram méritos sim, mas no todo fracassaram de forma evidente. Não defendo, e nem conheço quem defenda, os expurgos de Stalin ou o grande salto para a frente de Mao. Isso não me tira o sono nem por um minuto. Podem falar deles a vontade. Aconteceram, foram lamentáveis e não fazem parte de nada que eu defenda. Aliás, quem quer que tenha lido Marx sabe que o socialismo para ele era a libertação do homem, e não a tirania. Se esses regimes cometeram o que cometeram em seu nome, problema deles, estão completamente errados.

Mas aí vale lembrar duas coisas. Quem lê Marx vê que o socialismo soviético ou chinês é muito diferente do que ele imaginava. Mas quem consegue reconhecer o mundo em que vivemos nos escritos de John Locke ou Adam Smith? O capitalismo e o liberalismo pretenderam desde o começo eliminar os privilégios de nascimento. De forma jurídica conseguiram, felizmente, foi uma grande conquista. Mas na prática eles desapareceram? Há algo minimamente parecido com igualdade de oportunidades no mundo em que vivemos ou quem nasce no andar de cima tem chance enorme de continuar por lá? Pensando assim, parece que as coisas não acontecem como nos conta a lenda dourada do capitalismo, né?

Mais que isso. O capitalismo e o liberalismo espalharam ditaduras pelo mundo afora, e mataram loucamente. Ainda fazem isso. Mas de fato trazem liberdade a uma parte do planeta. Só que isso não aconteceu instantaneamente. Mesmo os países que os geraram levaram quase dois séculos para ao menos juridicamente conseguir a igualdade de direitos. Porque diabos então tirar conclusões tão absolutamente definitivas sobre um projeto a partir de uns poucos países que o experimentaram por pouco tempo e de forma tão afastada da teoria original?

Nada do que falei é uma crítica ao capitalismo. Se o sistema levou quase 200 anos para conquistar (em seus países mais avançados) uma de suas mais básicas propostas, a igualdade jurídica, isso aconteceu por um motivo compreensível. As ideias são postas em práticas em contextos específicos por seres humanos. A prática sempre vai fazer com que as coisas sejam diferentes. O capitalismo lidou com situações muito concretas e não previstas por seus idealizadores. Por isso demorou tanto para consolidar algumas de suas ideias mais básicas e hoje o mundo é tão diferente do que seus teóricos imaginaram. A questão é: por que não permitir ao socialismo viver essa mesma experiência e jogá-lo na lata de lixo da história tendo tido um período tão curto, em países tão pobres, para se afirmar?

Bem, se você ainda vive na guerra fria, certamente sabe a resposta. Para você só existe o bem e o mal, um sistema que liberta e outro que oprime. O mesmo vale se você tem preguiça de pensar e prefere se guiar por gente que só sabe gritar coisas simples sobre temas complexos. Mas se você tem um mínimo de curiosidade intelectual e não quer só se envolver em uma briga histérica, arremessando questões políticas do Brasil de 2014 na cabeça de um passado que nada tem a ver com isso, sabe que o mundo é complicado demais para ser simplificado de forma tão bisonha.

4 comentários:

  1. A Rússia e Europa do Leste são a Tumba do comunismo! Comunismo hoje serve só para ridículos "professores" subdesenvolvidos do miserável terceiro mundo cheio de analfabetos e favelas como em Pernambuco, no Brasil e América Latina miserável!

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  2. MARXISMO(COMUNISMO,FASCISMO E NAZISMO)É A PIOR DESGRAÇA DA HISTÓRIA MUNDIAL MORTE AO MARXISMO VIVA A DEMOCRACIA(DIREITA,CENTRO E ESQUERDA MODERADA)

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