Sou esquerdista, filho de esquerdista, passei a vida cercado por esquerdistas. Ouvi inúmeras histórias da geração mais velha falando sobre o dilema moral que viveram em 1970. O Brasil tinha um time maravilhoso, sensacional, único, mas o país vivia o auge de uma ditadura violenta e que promovia a desigualdade. Queriam torcer contra o time, com medo que sua vitória fortalecesse a ditadura. Mas não conseguiam, já que o time era uma maravilha. E viveram com essa culpa. Ouvi coisas muito parecidas na Argentina em relação à copa de 1978.
Falo disso porque no meio das polêmicas sobre a copa surgiu um novo tipo. Não é que simplesmente a pessoa seja contra a copa, vá a protestos nesse sentido, etc. Há gente dizendo que vai torcer contra a seleção. Acham que uma vitória canarinho turbinará o governo, e que uma vitória, digamos, da Argentina aumentaria as chances de vitória oposicionista em outubro. De fato é uma crença generalizada a de que vitórias esportivas ajudam governos, que as capitalizam. Mas será que é o que a história mostra?
Não. Para ficarmos nos exemplos citados. Em 1970 tivemos eleições para o parlamento. A grande estrela do pleito foi um macaco do zoológico do Rio de Janeiro, que teve dezenas de milhares de votos de pessoas que protestavam contra a situação daquele momento. Em 1978 no fim do ano o governo quase jogou o país numa guerra absurda contra o Chile por causa de um pedacinho de gelo na Terra do Fogo, numa tentativa desesperada de recuperar a popularidade que andava em baixa. Ou seja: esses regimes fizeram de tudo para capitalizar os títulos futebolísticos, mas os resultados foram bem escassos. A figura de Médici era popular por conta do milagre econômico e continuou sendo, independente do show brazuca no México.
Se seguimos os resultados eleitorais do Brasil, vemos também que não há relação nenhuma. Perdemos em 1982 e o governo teve um desempenho mediano nas eleições. Perdemos em 1986 e o governo teve uma vitória devastadora. Fomos péssimos em 1990, e o governo foi bem nas urnas. Ganhamos em 1994 e Itamar Franco fez seu sucessor. Perdemos em 1998 e FHC se reelegeu facilmente. Vencemos muito bem em 2002 e FHC não conseguiu fazer seu sucessor. Fomos mal em 2006 e 2010, e o PT se manteve no poder sem sofrer muito.
Olhando em conjunto, não surge nenhuma relação visível entre resultados futebolísticos e desempenho eleitoral do governo do momento. Nem brasileiros, nem pessoas de outro país, parecem levar em consideração questões esportivas na hora de decidir seu voto (no que, diga-se de passagem, fazem muito bem). Para arrematar falando de algo muito recente: a vitória do Brasil na Copa das Confederações aumentou a popularidade de Dilma? Não.
Claro que se Dilma for reeleita, os oposicionistas que não entenderam bem a democracia vão relacionar isso à copa, caso o Brasil a vença. Mas se ela vencer, será por motivos claríssimos, que qualquer pessoa razoável, independente de ideologia, consegue perceber com clareza: ela é conhecida do eleitorado, e seus opositores não; seu governo é bem avaliado pela população em todas as pesquisas; com reeleição, o presidente que está no poder tende a ser favorito (e isso não só no Brasil).
Cada um escolhe para quem torcer. Eu mesmo, embora brasileiro, torço pela seleção brasileira mas também vibro insanamente pela uruguaia. Escrevo para um site de futebol argentino, com amigos brasileiros que torcem pela Argentina por gostarem do futebol do país, mais que do brasileiro. Nada contra. Mas torcer contra por motivos políticos eu acho tolice. Até por não ser algo que historicamente seja relevante para influir em resultados eleitorais.
Porque torcer contra a Seleção, não é torcer contra o país ou deixar de ser brasileiro. Junte-se a esta torcida e conheça a nossa motivação. https://www.facebook.com/torcercontra
ResponderExcluirOlá Tiago!
ResponderExcluirTenho 31 anos e também sou esquerdista, desde que me entendo por gente, mas diferentemente de você, sempre torci contra a seleção brasileira, porém os motivos nada tem a ver com o governo. Minha rejeição se refere às duas entidades que são as donas dessa equipe de futebol: GLOBO e CBF.
Primeiramente, vejo uma seleção de futebol como uma mera equipe de futebol e não como a representação patriota de uma nação (aliás, tenho nojo do nacionalismo, que só serve pra engordar ainda mais as elites. Pra mim, o nacionalismo seria útil se por ele as pessoas lutassem por melhorias coletivas, visando o bom funcionamento da vida em comunidade). Torcer por uma seleção, no meu entendimento, pode ter motivações parecidas com as que nos fazem ser adeptos de um clube: influência dos pais; encantamento com um jogo na TV; direcionamento da mídia (a globo forma a maioria dos flamenguistas); empatia pelo estilo de jogo (assim passei a torcer pela celeste uruguaia); dentre outros. Mas no caso de uma seleção, se adiciona toda essa babaquice do nacionalismo.
No caso da seleção brasileira, sou um fervoroso torcedor contrário justamente pelo nojo que sinto da dupla Globo/CBF. A globo, há muito tempo, é a dona da seleção. Observe o que a mesma vem fazendo nos treinamentos, e na cobertura, chegando a interromper treinos para as ações promocionais, como fez o hipócrita do Lucianno Huck. Do lado da CBF nem preciso te listar os motivos pra tamanha ojeriza, pois só o fato de ser uma entidade privada que arrecada milhões (considerada por Parreira como o "Brasil que deu certo"), governa o futebol brasileiro na politicagem mais fisiológica e ainda assim transfere ao governo, e por conseguinte a nós contribuintes, ações que ela mesma poderia arcar (como a tal da ajuda aos campeões mundiais de 58 e 62).
Aí pode-se questionar: mas em todos os outros países as seleções também devem pertencer a entidades corruptas (Grondona está aí!) e serem controladas por redes de TV! Mas como argumentei anteriormente, não me sinto na obrigação de torcer por nenhuma razão nacionalista, e meu sentimento contrário se justifica por uma simples razão: vivo nesse país e assim conheço melhor as falcatruas da CBF e desde sempre sofro com elitismo cancerígeno da Globo! Portanto, tenho razões mais do que razoáveis pra torcer contra o sucesso de tais entidades nefastas!
Concordo contigo a respeito da idiotice em se associar a seleção ao governo, e observe que nunca torci contra a seleção da CBF/Globo por esse motivo! Infelizmente os reaças mais furiosos utilizam isso como motivação, como várias outras idiotices em seu repertório!
Sempre bom ler teus argumentos e debater contigo!
Gostaria de saber tua análise sobre nossa seleção uruguaia pra essa copa. Acho que o time carece muito de criatividade no meio campo, e o miolo de zaga com Lugano fica muito lento, apesar da liderança do capitão!
Tô sentindo falta de tuas postagens sobre bandas de rock! Lembro-me que no antigo formato do blog (acho que era pelo wordpress, com o fundo preto) você sempre escrevia sobre bandas ou temas ligados ao rock n' roll. Inclusive, foi através de teu blog que fiquei sabendo sobre ótimas bandas uruguaias e argentinas, as quais gostaria de ter acesso novamente!
Abraço, Tiago!
Moisés Cesar