domingo, 8 de novembro de 2015

Que viva a esquerda!


Sábado a Revolução Russa fez 98 anos. É uma data tão importante pra mim que nem sei o que pensar.

Sou de uma família esquerdista. Cresci nos anos 80 e vivi todo aquele clima da redemocratização. E em uma cidade operária onde o brizolismo reinava. Daí embarquei diretamente no mundo dos historiadores, um universo que com todos os seus problemas e suas chatices sempre tende a ser progressista. No início dos anos 90, quando eu estava na graduação, lembro que brincávamos que o comunismo só existia em Cuba e no nosso curso.

Em suma, em duas semanas farei 43 anos vivendo em um universo de esquerda. Provavelmente por isso não sei como é ser de direita. Pode ser que esse ponto do arco político tenha virtudes, mas eu não vejo nenhuma. Só vejo pessoas que tem como meta o ódio a quem já se ferra o tempo todo. Seja qual for o contexto. Os judeus, prostitutas e homossexuais no nazismo, os esquerdistas nas ditaduras militares latinoamericanas, os homossexuais, negros e nordestinos hoje, as mulheres e pobres desde sempre. Só consigo imaginar essas pessoas se unindo para odiar. E sempre odiando gente subalterna. Sempre com pena dos dominantes que são favorecidos. Por algum motivo na cabeça dessa gente a vida se resume a sentir pena dos brancos, dos heteros, dos homens, enfim, dos que já têm tudo. Em alguma lógica isso faz sentido pra eles.

Na minha lógica isso tudo é coisa de quem só pensa em si. Culpa dessa maldita formação esquerdista. Pra nós existe no mundo uma coisa chamada empatia, que significa tentar ver a vida com os olhos de quem não é como nós e tentar entender o ponto de vista de quem precisa de ajuda. Também existe uma coisa chamada generosidade, que é tentar pensar num mundo além do que é bom para nós mesmos. Podem nos chamar de sonhadores utópicos, mas vemos a vida assim. Achamos que só está bom se for bom para todos e não apenas para nós.

Também não entendo direito essa coisa de quem é de direita se definir em função daquilo que odeia. Eu me defino em função daquilo que eu quero. Um mundo justo, sem que ninguém tenha de pagar por ser quem é. Simplesmente isso. Que todos possam ser quem quiserem sem ter de sofrer. Aliás, foi exatamente em nome disso tudo que as melhores pessoas da geração dos meus pais (inclusive eles mesmos) arriscaram suas vidas e muitos pagaram por elas. Para que cada um de nós possa falar, escrever, comentar a idiotice que for sem ter de se explicar a ninguém. Inclusive para que quem é idiota a esse ponto ache que eles é que eram autoritários. Eles ouvem isso e não querem proibir que isso seja dito. A ditadura proibia que falassem mal dela e essas pessoas não se importam. Paciência. Isso é democracia.

Para nós, ser esquerdista é uma eterna alegria. É compartilhar o sonho de um mundo generoso. Cada um a seu modo, é o que nos une. Somos todos legais? Nem pensar. O que queremos é uma utopia? Pode ser. Mas dormimos em paz. E nossas vidas não são guiadas pelo ódio. Já é uma grande coisa.


Um comentário:

  1. Sempre fui de esquerda, mas nem sempre o soube. E tenha cada vez mais orgulho disso, agora que tenho certeza absoluta.

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