segunda-feira, 13 de abril de 2015

O fracasso das manifestações do domingo

Não há como discutir: as manifestações de domingo foram um fracasso. Em muitas grandes capitais brasileiras não chegaram a 10 mil presentes. Mesmo a capital do antipetismo, São Paulo, o público, mesmo sendo muito interessante, foi apenas metade da passeata anterior (sempre me guiando pelos números do Datafolha). Ou seja, um bom resultado em números absolutos, mas uma derrota em termos do parâmetro estabelecido no mês passado. Pelo pouco que vi, mesmo veículos hostis ao governo fizeram leitura semelhante. A questão é: por que?

Pra começar digo que não acho que a resistência ao governo tenha diminuído. A questão me parece estar mais no quesito da motivação. Pois uma coisa é acreditar em algo. Outra coisa é estar disposto a sair de casa e passar o domingo na rua defendendo a mesma tese. Isso vale para essa causa e para qualquer outra. Me parece claro que os manifestantes oposicionistas perderam o vigor, ainda que não tenham mudado de ideia a respeito do governo.

Se assim for, terá sido um grande erro dos organizadores marcar um segundo evento sobre a mesmíssima coisa um mês depois do primeiro sem que nenhum elemento novo tenha aparecido. As pessoas julgaram já ter dado seu recado e não viram sentido em voltar às ruas pelo mesmo motivo em um contexto diferente. Afinal, em março o impeachment era o grande tema do dia. Hoje não mais.

Sim, pois um efeito colateral das votações desastrosas do congresso nacional acabou sendo favorável ao governo em um certo sentido. A redução da maioridade penal e a terceirização ocuparam o debate político, reduzindo sensivelmente o espaço de debate sobre o impeachment. A esquerda e os governistas, que estavam cada dia mais descrentes do governo, passaram a se focar completamente na crítica a esses projetos. Claramente a muitos não pareceu fazer tanto sentido sair de casa uma vez mais pelo mesmo motivo em um momento em que o debate mudou.

Um outro elemento é que o tal apartidarismo da manifestação abriu margem para coisas inimagináveis. Pessoas defendendo o regime militar. Malucos que acham que o Brasil é comunista. Na última tinha até supostos integralistas reclamando do sistema dos 3 poderes e xingando Montesquieu. Não faço ideia do percentual de presentes nas manifestações que defende coisas assim, mas inevitavelmente essa bizarria chamou a atenção, por motivos simbólicos. Também houve outros tipos de bizarrice, como gente que acha que Aécio assume em caso de impeachment de Dilma e outros com faixas de teor altamente violento contra o PT e outras coisas de péssimo gosto. Sei lá, se eu fosse numa manifestação de defesa do governo e encontrasse gente defendendo o stalinismo e pedindo a morte de Aécio e Alckmin eu não voltaria na seguinte.

E ainda há a total ausência do PSDB. Sem querer ser confundido com essas coisas absurdas citadas acima (com toda a razão, aliás), temendo ser chamado de golpista (igualmente correto), mas vendo muitos de seus eleitores envolvidos no processo, e pouco disposto a ver a corrupção ser varrida do país, já que também não são santos, o partido adotou uma postura anódina. Encorajou vagamente o protesto, mas ao menos que eu tenha visto, nenhum de suas figuras mais importantes esteve presente. E convenhamos: existem esses grupelhos que fazem sucesso em rede social, mas só o PSDB teria a capacidade de mobilizar de verdade uma grande quantidade de pessoas num cenário desses. Sem o PSDB se tem apenas um aglomerado de grupos diferentes contra o PT mas sem nenhuma agenda positiva. Não vejo como algo assim mobilizar de verdade muita gente por muito tempo. Sem falar que com isso tudo a manifestação acabou dominada pelos piores tipos, como os citados anteriormente, o que só enfraquece e torna passível de críticas o evento.

Enfim, o último domingo não chegou a ser uma vitória do governo, que segue com baixa popularidade e perdido sobre como sair da situação econômica e política em que se meteu. Mas o fantasma do impeachment parece afastado. Política é o reino do tempo curto, então nada impede que amanhã a configuração seja outra. Mas tenho certeza absoluta que Dilma dormiu ontem seu melhor sono nos últimos meses.

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