terça-feira, 1 de maio de 2012
1o de maio
Lentamente o 1o de maio deixou de ser o momento de manifestação de orgulho da classe trabalhadora para se transformar no dia de ir ao show pago pela nossa contribuição sindical. Há alienação nisso, mas tem mais a ver ainda com a brutal incerteza sobre a classe trabalhadora enquanto sujeito político.
A segunda metade do século XX viu acontecer grandes mudanças que alteraram radicalmente o perfil e as possibilidades de ação política da classe trabalhadora. Principalmente para os operários, grupo da classe trabalhadora no qual sempre foram depositadas as esperanças de ação transformadora.
Pra começar a automação reduziu muito o número de vagas para os operários. Máquinas que fazem o trabalho de muitas pessoas levaram à perda de incontáveis empregos. Pela primeira vez na história o desemprego passou a ser um elemento estrutural do capitalismo, e não um fenômeno reservado aos períodos de crise. Além disso, ao menos nos países mais ricos, o Estado de Bem-Estar proporcionou uma sensível melhoria nas condições de vida da classe trabalhadora.
O resultado é que o operário típico está mais preocupado em manter seu emprego que em transformar o sistema ou mudar o mundo. Numericamente menor e cada vez mais enfraquecida, a classe operária se vê mais e mais na defensiva. Seus direitos conseguidos arduamente vão sendo comidos pelas "reestruturações" e "flexibilizações" das leis trabalhistas pelo mundo afora.
Nesse processo, dois grupos cresceram muito em termos numéricos: os trabalhadores do comércio e serviços e os precarizados (uso o termo aqui de forma deliberadamente genérica, agrupando subcontratados, temporários, etc.). E na verdade são dois grupos com os quais os agentes políticos que buscam representar a classe trabalhadora nunca souberam bem o que fazer.
As lideranças sindicais com as quais conversei me disseram ser impossível incorporar esses grupos às lutas classistas. Avaliam que o pessoal do comércio e dos serviços não se sente como membro dessa classe, por considerar que está desempenhando essas funções apenas em caráter temporário, enquanto nao se forma ou arranja coisa melhor (tipo "não sou vendedor de loja de shopping, apenas estou aqui enquanto termino a faculdade"). Já quanto aos precarizados, a avaliação das pessoas com as quais conversei é que a atual estrutura sindical está ultrapassada e impede a incorporação deles.
Por aí dá pra ver o seguinte. A classe trabalhadora de hoje é muito diferente da que Marx ou Bakunin viram. Não significa que os teóricos daquele tempo perderam a validade, já que o capitalismo continua sendo estruturado pela mesmíssima exploração que aqueles autores denunciaram. Quanto a isso não mudou nada.
Mas todo o resto mudou. O capitalismo tem características muito diferentes, e a classe trabalhadora também. São necessárias novas estratégias de luta, bem como reformulações nas teorias que dão sustentação a essa luta. E sinceramente, não acho que estejamos investindo nisso tanto quanto deveríamos.
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