quarta-feira, 2 de maio de 2012
40 anos de um clássico
Tudo o que veio ao mundo no maravilhoso ano de 1972 está completando 40 anos, incluindo eu. Isso inclui certamente um dos discos essenciais daquele ano repleto de discos essenciais: Thick as a Brick, do Jethro Tull.
O disco entrou para a história por sua ousadia. Era inteiramente composto por uma única canção, de quase 44 minutos. A letra era de autoria de um fictício gênio precoce, Gerald Bostock (personagem criado pelo vocalista Ian Anderson, autor da letra). Era novidade demais.
A crítica musical posterior, em sua maioria enraizada na tradição punk-new wave, odiou. Aquilo era o símbolo do que viam como a chatice e pomposidade do cenário do rock setentista. Para tantos outros, era uma das mais geniais inovações do rock.
Hoje isso tudo me parece muito barulho por nada. Na verdade o disco não tem uma música. São muitas faixas, todas com letras versando sobre o mesmo tema, só que sem um sulco as separando. Nem é uma suíte. É um disco conceitual. É como dizer que The Wall é um disco de uma música só. Não fecha.
Inclusive a meu ver o disco seguinte da banda é que seria realmente surpreendente. A Passion Play (1973) é um disco de uma música só, com uma letra repleta de temas complicados e experimentos sonoros bastante ousados. Não é a toa que não vendeu muito. Recomendo muito que seja ouvido, eu acho um discaço.
O que Thick as a Brick também é. O Jethro Tull é uma banda que foi muitas. Em This Was (1968) era uma banda pouco inspirada de blues (o disco é esquecível, e não deixou um único clássico). Mas em Stand Up (1969) veio a grande sacada: misturar o folk tradicional inglês ao blues e ao rock. A banda se afundou nessa receita e gravou dois discos avassaladores: Benefit (1970) e Aqualung (1971). Até hoje quando escuto "With You There To Help Me", do primeiro deles, o chão me foge.
Thick as a Brick é uma transição. A banda passou a flertar escandalosamente com o rock progressivo. Mas é um disco de transição. A ênfase nos teclados e na criação de climas sofisticados convive alegremente com a toada folk do violão de Ian Anderson. No citado A Passion Play a banda vai a fundo no progressivo. Mas logo voltou com mais ênfase ainda ao folk, gravando grandes discos até o final dos anos 70. Por volta de 1980 se perdeu para quase nunca mais se encontrar.
Em 1972 a banda estava em seu auge. Ian Anderson era mais genial que nunca, e a formação da banda talvez tenha sido a melhor entre as dezenas que existiram. Na guitarra Martin Barre, no baixo o insano Jeffrey Hammond-Hammond, na bateria o fenomenal Barriemore Barlow e nos teclados o insubstituível John Evans. As faixas do disco são absolutamente ótimas, cobrindo um amplo espectro de estilos, e a execução é primorosa.
Thick as a Brick é um dos discos da minha vida. Sou do tempo em que era quase impossível conseguir discos dessas bandas. O encontrei numa viagem ao Rio de Janeiro, em 1988. A viagem de volta parecia interminável. Nunca esquecerei a alegria de ter ouvido esse disco pela primeira vez. Só de olhar essa capa tão singular, volto a ser aquele garoto de 16 anos realizando um sonho.
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