terça-feira, 23 de junho de 2015

O desastroso início do segundo mandato de Dilma: hora da crítica, mas também do oportunismo

Antes de começar a escrever este post fui ver minhas postagens no facebook de setembro e outubro passados. Estava tão envolvido com a campanha da Dilma que até me assusto com meu entusiasmo. A maior parte dos meus amigos e colegas também estava nessa vibe. Não vou negar que deu uma vontade de chorar pensando que lutamos tanto, nos desgastamos insanamente e perdemos noites de sono em apoio ao que no fim das contas se revelou uma grande decepção.

O ajuste fiscal em si não me decepcionou. Qualquer pessoa que entende o bê-a-bá da economia sabia que ele viria, sob preço de o país entrar em colapso. Os gastos públicos estavam altos, inflação ameaçando voltar, crescimento diminuindo e o valor internacional das commodities descendo (na década passada estavam altos, o que financiou o crescimento da nossa economia). Um corte de gastos e investimentos era esperado, seja lá quem fosse o presidente. O que não dava pra imaginar era que, em um contexto em que bancos batem recorde em cima de recorde de lucros, essa conta fosse paga por desempregados e aposentados, justamente dois dos grupos mais vulneráveis da sociedade. E que o setor que seria vítima de corte de investimentos seria logo a educação, incluindo a virtual ou total extinção de programas de sucesso inquestionável, como o PIBID. Quando votamos em Dilma, votamos exatamente por pensar que esse era o tipo de coisa que ela nunca faria.

E pra piorar há o quadro político. Tudo bem que desde 2003 nos acostumamos a tolerar os governos petistas se aliando a pessoas da pior qualidade em nome da governabilidade. Mas definitivamente a coisa passou de qualquer medida. Michel Temer é o principal articulador político do governo, Renan Calheiros várias vezes foi a grande esperança de barrar loucuras aprovadas na Câmara e Katia Abreu nega a existência de latifúndio no Brasil no papel de ministra do governo. Um sujeito tão corrupto que foi expulso do DEM é ministro dos esportes. E por aí vai. Acuado pelo medo do impeachment e do golpismo, Dilma nada mais fez que permitirem a esses cretinos vampirizarem o governo.

Há 12 anos que nós, petistas que mantemos o compromisso com uma sociedade menos desigual, toleramos isso tudo em nome de um projeto maior. Não acho que estivéssemos errados. Bem ou mal, a fórmula do lulismo reduziu a desigualdade do país como nunca antes havia ocorrido e melhorou a vida de dezenas de milhões de pessoas que nunca haviam tido qualquer oportunidade. Mas é importante saber a hora de entender quando a coisa foi longe demais. E pra mim é completamente evidente que chegamos a um ponto em que essa política pragmática de compromisso de classes chegou a um ponto de estrangulamento. Não dá mais.

Faça um teste na base do "diga com quem andas e te direi quem és". Veja quem são os aliados de Dilma. Talvez mais importante: veja quais adversários a amedrontam mais. Não é a ala esquerdista do governo nem a oposição à esquerda, muito menos a patética oposição à direita. Dilma está pautando seu governo pelo medo de desagradar gente tipo Eduardo Cunha. Um ladrão, oportunista, ligado a tudo o que há de ruim neste país. Ao invés de buscar apoio em quem se opõe a lixos como ele, Dilma busca agradar possíveis apoiadores dele, como banqueiros, industriais e evangélicos, para evitar que o presidente da Câmara fique mais poderoso ainda. Esse é o ponto em que me parece indiscutível que é hora de dar um basta. Não podemos mais tolerar esse tipo de coisa.

E sobretudo precisamos nos libertar de um medo permanente: o de sermos confundidos com o pessoal da direita que, de forma oportunista, faz essas mesmas críticas ao governo. Ora bolas, o PSDB acompanha Eduardo Cunha em todas essas pautas absurdas que ele propõe. Está de mãos dadas com Ronaldo Caiado. Governou o Brasil e governa vários estados tendo como aliados essas mesmas pessoas que Dilma quer agradar. Destruiu a universidade pública quando foi governo federal. O que se cortou agora foram coisas que nem poderíamos sonhar que existissem quando FHC era presidente. Teve greve de professores em todos os estados que governa neste ano. Sua solução foi sentar a porrada nos professores e manter eles se ferrando em uma educação sucateada.

Chega desse fantasma de que criticar os erros do governo pode nos igualar aos eleitores do PSDB. Não pode não. Eles são oportunistas, que nunca ligaram para educação, que não estão nem aí pelo fato de a educação nos estados governados pelos tucanos estar um desastre, votaram em Aécio mesmo sabendo perfeitamente que ele sequer cumpria a lei e não pagava o piso obrigatório aos professores, estão se lascando para os gigantescos cortes promovidos por Alckmin no setor, com professores comprando material com seu próprio dinheiro. Vêem sem qualquer crise de consciência seu partido votar pela redução da maioridade penal. Não ligam pra nada disso mas quando Dilma corta programas educacionais querem bancar os reis da defesa da educação. Oportunistas.

Não precisamos temer ser comparados com essa gente. Não somos como eles em nada. Eles criticam os atos recentes do governo Dilma porque não sabem fazer outra coisa. Nós não somos assim. Queremos um Brasil melhor para todos. Achamos insuportáveis as incoerências do governo federal. Não mudamos de discurso todo dia ao sabor das circunstâncias. Não queremos um governo que tenha Ipanema e Jardins como prioridade, mas um que cuide de quem mais precisa. Não temos nada a ver com eles. Não podemos continuar com o fantasma do medo de sermos confundidos com eles. Esse medo já nos silenciou demais nos últimos 12 anos. A ponto de o governo se sentir livre para chegar para a direita o quanto quiser sem medo de ser criticado por nós. Hora de virar essa página.

3 comentários:

  1. Você é um cara lúcido pra caramba! Adorei o texto e comungo de suas ideias, angústias e indignações! Irmão, tu é FODA!.

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    1. Imaginei a gente batendo este papo no Achei, comendo macaxeira com fígado!

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    2. E só para terminar, governo de merda que traiu a educação pública, gratuita e de qualidade!

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