sexta-feira, 5 de outubro de 2012

E se eu fosse um político de esquerda?


Sou um opositor de esquerda ao lulo-petismo. Acho que nos 10 anos de governo petista houve avanços nada desprezíveis, mas não aprecio nem um pouco o modelo adotado, que a meu ver é muito tímido na redução da desigualdade. Somos muito ruins nesse quesito, e avançando tão lentamente a coisa não vai ficar bem tão cedo.
O diabo é que quando você olha para outros países governados por políticos progressistas não vê nada muito diferente. Os demais governos esquerdistas sul-americanos adotam modelos distintos, mas em linhas gerais não são lá muito diferentes. O mesmo vale para os governantes dos países do Atlântico Norte que pertencem a partidos mais progressistas.
A grande questão é que todo o espectro mais à esquerda falhou clamorosamente em se reinventar após os sucessivos choques dos anos 70 e 80. O socialismo soviético morreu, o Estado de Bem-Estar entrou em colapso, os sindicatos perderam toda a força e a classe trabalhadora está mais preocupada em salvar seus empregos que em lutar por melhorias.
Em suma, os projetos ideológicos do arco esquerdo da política faliram, e sua base social mudou bastante. Era necessário uma reinvenção. Avaliar o que deu errado, manter o que deu certo, adaptar as velhas idéias à nova realidade. Mas isso simplesmente não aconteceu. A esquerda não criou nada de novo nas últimas décadas. Enquanto isso, os neoliberais tomavam o mundo de assalto, com sua receita simples: tirar o Estado de campo.
Assim, os partidos progressistas mundo afora só encontraram uma alternativa: recuperar velhas fórmulas. Em especial o velho populismo latino-americano: políticos carismáticos comandando um arco duvidoso de alianças mas convencendo a população de que a protegerá de uma elite voraz. E não vale só para a América Latina: Obama mesmo não está longe disso.
É possível governar bem assim. Mas este velho militante esquerdista se sente incomodado com o vazio ideológico que impera na esquerda. No entanto, infelizmente é preciso reconhecer que esses políticos não tem opção. Nós, intelectuais esquerdistas, falhamos monstruosamente em reformular as ideologias que embasam nossa visão de mundo (se é que tentamos fazer isso). Assim, só sobrou aos políticos progressistas requentar ideia velha. Nesse caso a culpa não é deles.

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