No post de ontem expressei meu desgosto por ter de ouvir um monte de gente o tempo todo me perguntando "como são os argentinos", em especial se eles gostam de brasileiros. O pecado da pergunta está em se presumir que 40 milhões de pessoas pensem a mesma coisa sobre qualquer tema que seja. Ou seja, se uniformiza o outro, o que é muito comum, infelizmente. Deixa eu tentar explicar como funciona a partir de alguns exemplos.
Meu grande, imenso, gigantesco amigo Horácio me dizia hoje que não entende que diabos nós brasileiros, vamos fazer na Argentina. Para ele somos um pais quente e alegre, enquanto a Argentina é fria e deprimente. Claro, meu amigo é fã do Brasil. Traduziu até um livro de Lima Barreto para o espanhol. Há muitos que pensam como ele.
Já minha amiga Valéria, comunista de carteirinha (como se dizia no meu tempo), acha outra coisa. Ela não tem nada contra brasileiros, mas tem ressentimentos contra o que acredita ser um imperialismo brasileiro em relação á América Latina. Por outro lado, tampouco entende como eu goste tanto da Argentina, que na opinião dela não é um país sério.
Anteontem um taxista não quis me levar para onde eu ia, dizendo que era um lugar perigoso. Mentira, o lugar não tem nenhum perigo. Já o dono de um estabelecimento onde eu gosto muito de tomar umas cervejas vive me destratando sem qualquer motivo (por isso parei de ir lá), e é só comigo. Claro: não gostam de brasileiros.
Por outro lado, vários comerciantes (incluindo o dono do restaurante que eu mais frequento e o dono da loja de materiais esportivos onde compro os presentes futebolísticos que sempre me pedem para levar) aprenderam várias palavras em português e me atendem da melhor forma que se possa imaginar. Certamente uma mistura de simpatia por nós com a percepção de que brasileiros deixam fortunas por ano em Buenos Aires, e que nenhum comerciante pode perder essa chance (certíssimos eles).
Todas essas percepções são bastante comuns. Há outras, mas acho que o recado está dado. E não vale apenas para os argentinos em relação aos brasileiros. Vale para qualquer comunidade humana. Nenhum grupo é uniforme, muito menos aqueles que possuem milhões de membros. Por isso mesmo sempre é tolice tentar definir esses grupos a partir de ideias gerais. Se houve algo que aprendi nas minhas andanças por essa vida é que quando você vê qualquer povo de perto, você se dá conta que qualquer generalização que se faça sobre ele é estúpida. A tentação é forte, mas o melhor é tentar evitar sucumbir a esse tipo de coisa.
Ô Tiago, precisamos marcar para tomar uma cerveja em Bs.As. um dia desses!
ResponderExcluirIsso sim seria uma grande ideia! Na próxima vez vamos ver se sincronizamos as viagens (ano que vem tem interescuelas em Mendoza, não vai?)
ExcluirMaldita seja essa mania de ser súdito!
ResponderExcluirO imperialismo é tão forte que pensamos que nacionalidade define personalidade e que limites territoriais de domínio político define sociedade.
Bem dito seja o humanismo.