terça-feira, 11 de setembro de 2012

O "Herói" Joaquim Barbosa


Pelo que noto, Joaquim Barbosa se transformou em um herói para muita gente. O  ministro do Supremo virou um superstar por seu voto condenatório dos réus do chamado "mensalão". Nessa linha, ele teve a "coragem" de botar os "corruptos na cadeia".
Essa visão é no mínimo muito mal informada. O Brasil não é uma terra sem lei. É uma democracia constitucional com três poderes independentes. Barbosa pertence à elite do poder judiciário, e não pode sofrer qualquer sanção dos poderes executivo e legislativo. Tem toda a liberdade do mundo para proferir seus votos como bem entender sem precisar se preocupar com consequencias. E é muitíssimo bem pago para isso.
Então vamos arredondar isso. Você pode ter achado o voto dele absolutamente perfeito (eu me perguntaria antes: "estou realmente bem informado sobre as provas produzidas contra todos os réus, para ter tanta certeza que tal voto foi certo e tal voto foi errado?", mas vá lá, pulemos essa parte). Que seja. Mas "coragem"? "Heroísmo"? Aí não, né, pessoal? Na melhor das hipóteses ele votou corretamente. Mas convenhamos: é pra isso que ele é pago, né? E que "coragem" é essa? Ele não correu nenhum risco por ter feito o que fez. É como se eu me vangloriasse dizendo que tive a coragem de dar uma boa aula. Ou um taxista se dizendo herói por ter levado seu passageiro ao destino certo.
Claro, existe uma ideia generalizada (e longe de ser injustificada) de que a impunidade reina neste país. O que significa que qualquer denúncia é tida como verdade por todos. E significa também que quando alguém é absolvido seu nome não fica limpo, pois pensamos "grande coisa ser absolvido, todo mundo é". Sendo assim, quando surge o mensalão presumimos que é tudo verdade (pode até ser que seja, não duvido, só não me acho bem informado o suficiente sobre o assunto para opinião tão peremptória), mas que todos serão absolvidos como sempre. Nesse contexto, um ministro que vota pela condenação de todos os envolvidos parece mesmo um herói. Ainda que não seja.
Mas o que me incomoda mesmo nisso tudo é outra coisa: é o que isso mostra sobre a oposição no Brasil. Eu sou oposição ao governo federal, voto nos partidos mais à esquerda. Mas reconheço: a oposição ao lulo-petismo está perdida. O apoio ao governo é maciço, a população está satisfeita e não há de fato indicadores que isso mudará no curtíssimo prazo. Claro, uma solução honesta seria manter-se o discurso (liberal para os oposicionistas de direita, socialista para os de esquerda) e esperar que os ventos mudem. Mas política não é assim. Política é o espaço do prazo curtíssimo. Então é necessário arranjar algo urgente para atirar no governo.
A solução foi tentar colar no governo o rótulo de corrupto. Até aí nada contra: se descobrirem coisas do tipo têm mais é de denunciar mesmo. A questão é que isso tem sido feito em um insuportável tom moralista, ao velho estilo da UDN golpista tentando desestabilizar governos com os quais não concordava. Esse discurso nós sabemos onde chegou: "todo político é corrupto, é preciso vir alguém de fora limpar a área e botar os bandidos na cadeia". Os militares gostaram da ideia e sabemos onde isso deu.
Esse discurso poderia até ser normal na boca do DEM ou de gente tipo Boris Casoy ou Marcelo Tas. Mas foi encampado em grande medida pelo PSDB, que não tem coragem para manter seu discurso neoliberal por avaliar que o povo hoje em dia não quer nem ouvir falar nisso. E mesmo gente da oposição á esquerda do governo já começa a abraçar isso. Uma tragédia.
A tragédia não é denunciar corrupção no governo. Mas ter nisso a única bandeira. Seguimos assim e aparece um messias falando em moralizar o país. Quem viveu a eleição de 1989 sabe onde isso pode dar. Vamos mudar o discurso. Falemos que o país se desenvolve apenas à custa de uma expansão brutal dos gastos públicos (ou seja, não é um crescimento sustentado; na primeira crise o governo fecha a torneira e o crescimento acaba). Que a desigualdade diminuiu pouco (segundo alguns) ou não diminuiu em nada (segundo outros), e que apenas houve a entrada de novos consumidores no mercado (mas o andar de cima ganhou ainda mais no processo, então em termos relativos ficou tudo igual, ainda que em termos absolutos não). Reclamemos do enorme espaço que partidos sem nenhuma ideologia desfrutam no governo. Critiquemos a total ausência de limites das concessões que Lula e Dilma fazem a esses partidos para os manterem na base aliada. Ou a falta de sensibilidade do governo petista com demandas que incomodem os partidos conservadores ou religiosos (o homossexualismo, por exemplo).
Critiquemos o governo, pois esse é o papel da oposição. Não perdoemos a corrupção, mostremos intolerância ao "ah todo governo tem corrupção, então pra que ligar?", pois essa é a função do cidadão. Mas por favor, evitemos a tentação de ficar obcecados apenas com o tema da "moralização". Na última vez que fizemos isso, levamos um Collor na testa. Na penúltima uma ditadura que destruiu o país. Precisamos mesmo de uma terceira experiência como essas para aprender que papel de oposição é apresentar alternativas de poder e não se agarrar a moralismo que rapidamente se degenera em messianismo político?
Em suma, qual oposição contribui mais para o país. A que critica, aponta equívocos, constrói um projeto decente e vai á luta eleitoral ou aquela que busca o messias que vai nos redimir da corrupção generalizada (agora é o Joaquim Barbosa, amanhã sabe deus quem pode ser)?

3 comentários:

  1. Mando muitíssimo bem, tiagão (mto gay essa de tiagao, mas tudo bem)!!

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  2. Verdade seja dita, ele já era incensado por ser o primeiro afro-descendente a ocupar cargo tão alto. Até aí, tudo bem. Mas transformá-lo em arauto da justiça contra os mensaleiros fica estranho.

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  3. Eu discordo de sua opinião. O que ele está fazendo precisa sim de muita coragem e muita honestidade. Se ele fizesse como Lewandowski por exemplo, ele poderia angariar muitos "pontos" com os políticos absolvidos e assim conseguir favores. Fora o fato que ao condenar os bandidos, ele está ao mesmo tempo recusando a imensa propina que com toda a certeza foi oferecida para ele e os outros ministros. Esse movimento que está a solta na internet de glorificar Joaquim Barbosa é uma repulsa aos outros ministros que se deixam levar pela corrupção, é o movimento contrário do que a mídia geralmente tem feito: ressaltar os políticos corruptos e deixar os honestos para segundo plano. Por isso que é tão difícil hoje em dia vermos juízes, prefeitos, deputados, etc, honestos, por que perdemos tempo demais olhando para os corruptos. Porém a matéria foi bem escrita, gostei do blog.

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