quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O Brasil visto de fora


Nós, brasileiros, temos a insuportável obsessão das identidades regionais e nacionais. Por ter tido uma vida cigana, sou torturado permanentemente com perguntas tipo "é verdade que os paulistas são arrogantes?" "por que os gaúchos odeiam o resto do Brasil?" "quem você gosta mais, mineiros ou fluminenses?". Desisti de tentar argumentar que as coisas não funcionam dessa maneira. Que qualquer lugar tem todo tipo de pessoa, ainda que sempre haja traços mais fortes em um lugar que em outro. Simplesmente respondo qualquer coisa e curto o fato de minha fé na humanidade diminuir mais um pouco.
Em relação aos argentinos isso ganha tons mais severos. O fato de ter uma ligação profissional e pessoal com este país me condenou a uma vida respondendo perguntas sobre a arrogância argentina e ouvindo discursos sobre a maravilhosa Paris latino-americana que é Buenos Aires. Desisti de tentar explicar que quando estou aqui minha preocupação principal é curtir meus amigos queridos, e que quando estou com eles a última coisa que me lembro é que são argentinos.
Mas claro, sair do Brasil sempre faz a gente pensar em nosso país. Inevitavelmente ficamos comparando as coisas, notando as diferenças, etc. No meu caso, a tendência é me aborrecer ao ver quanta coisa o Brasil tem de ruim por pura vontade própria. Somos um país terceiro mundista, então claro que não dá pra querer que tenhamos um padrão de vida nível Suécia. Até aí tudo bem. Mas e quando você vai para outro país de terceiro mundo, mais pobre que o Brasil, vivendo um momento econômico pior (e não é de hoje), e que tem um monte de coisas melhores simplesmente porque decidiu que as teria?
Fomos nós, brasileiros, que decidimos copiar os americanos na crença de que só anda de transporte público quem é derrotado (tenho vários amigos argentinos com boas condições de vida que nem tem carro). Resultado: ficamos reclamando do trânsito, como se fosse Deus quem tivesse entupido nossas cidades de automóveis. E não fazemos a menor questão de ter um bom serviço de transporte, já que só queremos saber dos nossos carros. Resultado: Buenos Aires tem uma malha de metrô muitíssimo maior que a de São Paulo, que é quatro vezes maior em população.
Fomos nós, brasileiros, que decidimos que a educação não é importante. Nada teria nos impedido de fazer como os argentinos, que transformaram a educação em obrigação do Estado há quase 130 anos. Absolutamente nada nos impede de fazer com que nossas escolas públicas ofereçam a opção de que as crianças passem 8 horas por dia por lá (aqui os pais podem escolher, 4 ou 8 horas).
Esqueça essa coisa de que Buenos Aires é "européia". De europeu aqui só há a ascendência da maioria da população e o frio assassino. Fora isso, é uma metrópole terceiro mundista, que tem coisas melhores e piores que as nossas grandes cidades. A grande questão que me incomoda é que a maioria das coisas que Buenos Aires tem de melhor passam simplesmente pela vontade. Aqui o transporte público é melhor, o trânsito também, a educação é muito superior, a cidade é mais cuidada que qualquer grande cidade brasileira. Tudo questão de vontade. Se a gente quisesse poderia ter isso tudo. Não temos porque não queremos. Simples assim.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. "Resultado: Buenos Aires tem uma malha de metrô muitíssimo maior que a de São Paulo, que é quatro vezes maior em população"


    Totalmente errado.

    Buenos Aires tem 55km de metrô e São Paulo tem 80 km.

    E a cidade tem 13 milhões de habitantes, contra 19 de São Paulo nas respectivas áreas metropolitanas.

    Quanto a educação básica, se a deles fosse tão boa eles não estariam atrás do Brasil nos relatórios do PISA. E a educação é obrigação do estado no Brasil.

    Quanto a ser mais cuidada, só pode ser brincadeira. Compare uma Curitiba, uma Goiânia, uma Brasilia com Buenos Aires e a capital porteha ficará no chinelo em limpeza e organização urbana.

    Gosto das suas opiniões, mas esta aí está totalmente equivocada. Embora concorde que o Brasil possa melhorar em muitos aspectos. Mas Buenos Aires é inferior a muitas de nossas cidades em todos esses pontos. É um fato!

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  3. Bem, eu como brasileiro, concordo que o maior problema do Brasil são os brasileiros mesmo, pois o país é maravilhoso. Muitos adoram xingar o país, esculachar, etc, mas que adoram repetir os mesmos do poder que roubam a todos nas eleições e muitos outros que fazem campanha pra não ter que votar. Todos estão errados, pois a conta é de todos e todos sofrerão de alguma forma! No dia em que todos os brasileiros se unirem, se politizarem mais (os argentinos, chilenos e uruguaios são muito mais politizados), aí sim, poderemos nos comparar ao resto do mundo desenvolvido. Mas num país em que a maioria é indiferente, conivente e se lixa para o país e do que os políticos fazem com nossos impostos, não poderemos ficar malhando nosso país, porque o Brasil é apenas vítima dos que reclamam tanto dele...

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