sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Brasil 190
Há 190 anos D. Pedro I fazia o gesto que o imortalizou. Ou seja: hoje é dia de falarmos sobre como nosso país já começou com um arranjo familiar, ao contrário dos vizinhos, e que isso mostra como somos uma droga e zzzzzzzzzzz
Gozado que isso parte de uma perspectiva que nós, historiadores, detestamos. No primeiro período de graduação já aprendemos que é tolice essa coisa de ir buscar uma origem que explica tudo o que veio depois. Ou seja, essa coisa de dizer que nossa Independência foi fuleira e portanto o país é uma porcaria não tem qualquer base. Mas muita gente boa repete isso com boca cheia.
Na verdade o fato curioso é que essas pessoas apenas mostram ser presas fáceis de uma construção histórica. Tipo: por que comemoramos a Independência no dia 7 de setembro? Havia outras opções disponíveis. O Dia do Fico mesmo poderia ser uma boa escolha. Ou o momento em que D. Pedro decretou que as leis portuguesas precisariam da aprovação dele para vigorar aqui. Ou ainda o 2 de julho de 1823, quando a resistência portuguesa finalmente é derrotada na Bahia.
A resposta é clara: porque os organizadores do nosso Estado não queriam enfatizar uma forte ruptura. Preferiam que a nova nação começasse sua vida sob a égide do consenso. Então nada melhor que o jovem imperador levantando sua espada contra ninguém no meio do nada. Melhor ainda: o episodio colocava D. Pedro e seus auxiliares como únicos sujeitos da história.
Imagine se nossa Independência fosse comemorada no 2 de julho. Implicaria em coisas que aquelas pessoas não queriam nem sonhar. Sangue, batalhas encarniçadas, conflito, negros e pobres em geral morrendo pela causa nacional. Nem pensar numa coisa dessas. O quadro de Pedro Américo consolidou de vez essa visão em que o povo assistia pasmo ao nascimento de uma nação forjada apenas por sua elite.
Que naquele momento essa ideia tivesse sido adotada pelos fundadores da nação eu entendo perfeitamente. Lhes convinha totalmente. Mas como explicar o fato de tanta gente esclarecida e estudada repita essa tolice, só que em tom negativo? E, ainda pior, vendo nisso uma espécie de maldição eterna para nosso país, que por ter nascido "em pecado", jamais será feliz?
Esse é o tipo de coisa que mostra que, no afã de desmoralizar a história oficial (aquela dos "heróis da pátria" que eu cheguei a conhecer na escola) nós provavelmente erramos a mão em certas coisas. Acabamos tendo facilidade demais em condenar todo e qualquer episódio da nossa história, sem por vezes ter a sensibilidade de discernir os momentos em que nossa história de fato é bonita. Não para nos dizermos os melhores, mas apenas para reconhecer que como qualquer país, o nosso também tem coisas boas.
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