sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Milton Nascimento 70


Uma das coisas mais chatas do mundo é quando me perguntam por que gosto ou não gosto de um artista ou uma banda. Música não funciona assim. A música te toca ou não. Simples assim. Acho as composições de Mozart geniais, mas 90% delas não me causam qualquer efeito. Por outro lado, a barulheira do Sex Pistols, formada por analfabetos musicais, me cai muito bem.
Milton Nascimento sempre me tocou. O amo desde que a minha memória consegue alcançar. Claro que tecnicamente sua obra é irreparável: canta pra cacete, compõe bem demais e o acompanhamento instrumental sempre é excelente. Mas isso é o de menos. A questão é que por motivos que nunca entendi, suas obras me arrebatam completamente. Principalmente sua obra dos anos 70, que eu acho o supra-sumo do que se fez em sua geração.
Mas quando mudei pra Minas a coisa ficou pior. Me lembro de quando viajava para Mariana para dar minha primeira aula como professor substituto da UFOP. Havia saído de Campinas as 9 da noite, troquei de ônibus em Belo Horizonte as 5 da manhã. Quando acordei já estava chegando ao destino. Vi o sol nascendo por trás das montanhas tão mineiras e pensei: "putz, as músicas do Milton são a trilha sonora dessa paisagem!".
Naquele momento, ocorrido há uns 10 anos, muitas fichas caíram na minha cabeça. Entendi porque todos os mineiros que eu conhecia amavam Milton Nascimento. E entendi sobretudo a intensidade de suas composições. Tudo o que ele compôs em sua vida é Minas Gerais. Mesmo quando não é sobre isso explicitamente (quase nunca é) você vê claramente que ele filtra o universo pela perspectiva mineira. Sei, você que não é mineiro não vai entender. Não dá pra entender mesmo. Só vendo.
Aqueles anos em Minas foram bons demais. Minas me ofereceu todo o afeto e carinho que só os habitantes daquele estado sabem dar. E a trilha sonora daqueles anos sempre foi Milton Nascimento. E vou dizer: poucas coisas nesta vida são tão legais quanto viajar pelas horríveis estradas mineiras ao lado de uma pessoa amada ouvindo Milton Nascimento e contemplando as incomparáveis montanhas que são a paisagem característica do estado. Minas, montanhas, afeto e Milton Nascimento. Tudo se encaixa perfeitamente.
Sim, este é um post completamente subjetivo. Foi uma opção minha. Poderia falar muito sobre a qualidade da música de Milton Nascimento para celebrar seus 70 anos. Sobre a quantidade absurda de músicas maravilhosas que ele fez. Mas preferi apenas agradecer a ele por ter sido a trilha sonora de tantos momentos da minha vida. Desde que me conheço por gente ele é parte essencial da minha vida. E a esta altura acho que posso dizer que será assim enquanto eu viver.

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