domingo, 7 de outubro de 2012

Voto

15 de novembro de 1989. A inesquecível primeira vez em que votei. O Brasil era um país bem diferente. Não havia eleições para presidente há 29 anos. O que significava que a maioria da população jamais tinha vivido aquela experiência. Então de certa forma eu tive sorte. A 8 dias de completar 17 anos fazia algo que pessoas de, digamos, 45 anos, nunca tinham feito até então: votar para presidente. Na verdade tive mais sorte ainda, pois era a primeira eleição em que pessoas de 16 anos podiam votar.
Ter estreado como eleitor naquela ocasião foi mesmo muita sorte. Foi uma eleição muito legal, em que havia candidatos para todos os gostos. Mais que isso, aquela eleição foi uma espécie de ponto culminante de uma sequencia de lutas pela redemocratização. Todo mundo queria votar. Os carros tinham plásticos fazendo propaganda dos candidatos, a eleição era discutida em tudo quanto é lugar. Uma beleza.
Eu votava no Aero Clube de Volta Redonda. Naquele dia eu e meu melhor amigo, que também estreava seu título de eleitor, saímos cedo de casa. Fizemos uma boa caminhada pelo meio do mato para cortar caminho, incluindo atividades como saltar sobre valas (quem disse que no interior não existe aventura?) e chegamos lá. Abri aquela cédula enorme (eram mais de 20 candidatos!) marquei o x no meu candidato e depositei o voto na urna com o coração a mil por ora.
Naquele dia eu votei em Leonel Brizola. Natural: meus pais votaram nele, assim como quase toda a minha família, a maioria dos meus amigos, a minha namorada, meus colegas de turma. Volta Redonda era uma cidade operária, com um fortíssimo sindicato brizolista, a atmosfera era essa mesmo. Se era brizolista ou anti-brizolista. Fiquei com a primeira opção. E não me arrependo.
Quando lembro daquele dia ensolarado chego a me chocar com as diferenças na atmosfera política em relação aos dias de hoje. Meus alunos não têm 10% do entusiasmo que eu tinha naquele tempo em relação ao fato de votar. O que evidentemente tem um lado bom. Significa que a democracia para eles é um dado, algo natural. Por esse lado, o Brasil melhorou muito.
Por outro lado eu sinto falta daquele entusiasmo. Daquele engajamento. Acho que todos nós que vivemos aquele momento cometemos um gravíssimo erro. Achávamos que todos os problemas do Brasil eram culpa da ditadura, e que assim que pudéssemos votar tudo se resolveria. Não era bem assim. Somos humanos, votando em candidatos humanos. Não poderíamos ter colocado tanta responsabilidade em nós mesmos.
O resultado foi que descobrimos algo que deveria ser óbvio: nosso voto não era mágico. O Brasil melhorou nesses 23 anos, mas não virou outro país. Ao invés de entender isso, simplesmente nos desiludimos. Concluimos que político não presta e que eleição não muda nada. A amargura contra a política se generalizou.
Quase um quarto de século depois acho que é hora de revermos isso. Votar não é mais uma conquista, é um direito adquirido. Mas não é algo que vai resolver nossos problemas. Talvez seja mais útil ver uma eleição como um momento em que damos nosso recado. Em que temos a oportunidade de ser ouvidos. Menos como uma varinha de condão e mais como um momento em que a sociedade diz o que pensa. Muitas vezes a sociedade não vai dizer o que queremos. O que não quer dizer que ela esteja errada. Aceitar isso também é parte da democracia.

2 comentários:

  1. Penso que governantes a milhas de km não vão resolver nossos problemas e não tem a intenção de fazer bem à nossa pequena cidade, pois a vêem através dos números da fria administração, da estatística. É um distanciamento muito grande apesar do avanço da tecnologia em comunicação.

    O projeto Brasil, megalomaniaco e fruto de uma mentalidade imperialista, é assim desumano e desastroso. Um megalomaniaco não pensa na simplicidade e aí, tanto votar quanto governar fica complicado...

    Não estou pregando anarquia nem liberalismo, mas já esta na hora de enterrar esse casal de múmias a democracia e o governo imperial e ver no que vai dar...

    Tentar outra coisa!

    Revolução ou morte!

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  2. Cobrança,

    Hobsbawn entrou na era sem era.

    Ajoelhou tem que rezar, manda aí uma nota dele neste blog, pô!

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