quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Cadê o PSDB?


Chegamos a mais uma eleição em que o PSDB sai menor do que entrou. Nas cidades mais importantes do país teve umas poucas vitórias como sócio minoritário, e fica por aí. Quase certamente levará uma surra em São Paulo, com seu nome mais conhecido sendo derrotado por larga margem por um petista desconhecido do eleitorado até o início da campanha. Para um esquerdista como eu, isso pode parecer ótimo. O problema é que isso lentamente pode trazer desdobramentos muito desagradáveis.
Afinal, antes de esquerda e direita vem a democracia. E o PSDB tem um papel enorme a desempenhar na nossa democracia. Governos de tons esquerdistas se espalharam pela América do Sul nos últimos 15 anos, e muitos deles têm enfrentado oposições de matiz francamente golpista. O Brasil foi preservado disso, já que o campo do centro-direita é hegemonizado pelos tucanos, partido que nasceu na oposição à ditadura, portanto um grupo de sólido DNA democrático. Nesses 10 anos como oposição nunca foram santos, mas jamais deixaram entrever qualquer chance de golpismo, como tristemente vemos em países como Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai.
E não tenho a menor dúvida: se a oposição fosse liderada por gente que mamou nas tetas da ditadura e que até hoje não se acostumou aos mais básicos princípios democráticos (digamos, o DEM), o cenário seria outro. Por isso digo: um partido centrista, liberal em suas convicções, e comprometido com a democracia é algo que faz parte da pluralidade democrática. E em uma região em que a democracia nunca foi um valor arraigado, é altamente desejável termos um grupo como esse comandando o arco de centro-direita.
Infelizmente vemos o PSDB perdido. A população aprova majoritariamente o governo federal, e os tucanos concluíram que boa parte de seu antigo eleitorado não quer mais nem ouvir falar em estado mínimo ou privatizações, bandeiras históricas do partido. O que fazer nesse quadro?
Parte substantiva do partido aderiu à histeria moralista, que é um discurso de qualquer oposição de qualquer época (o PT nos anos 90 também fazia isso), mas que tido como único argumento evidencia fortemente a falta de um projeto coerente.
Pior, outros, como José Serra, em uma atitude eleitoreira, adotaram uma postura reacionária que não combina em nada com a história do partido. Tanto em 2010 como em 2012, Serra, quando se viu em dificuldades, se abriu para a direita mais obscurantista, apelando para um discurso que inclui homofobia e demonização do aborto, algo que envergonharia gente como Franco Montoro, fundador do partido e defensor histórico dos direitos humanos durante a ditadura.
A catástrofe disso é a seguinte. Com isso, o PSDB abre mão de seu protagonismo na aliança centro-direitista que comanda, e coloca argumentos da direita mais lunática em primeiro plano. Assim, o que separa pessoas desse segmento do pensamento: "se é assim, dispensemos intermediários, Malafaia presidente!"? Muito pouco, né?
Talvez o grande problema do partido seja a ausência de renovação. A geração que fundou o partido está morta ou em idade avançada. Era a geração da luta contra a ditadura, que defendia um liberalismo racional e culturalmente progressista. A geração de Aécio e Alckmin deveria ter assumido o controle do partido há tempos. Os nomes citados são populares em estados importantes da federação, mas de fato não conseguiram ainda se inserir no debate nacional. Ninguém sabe o que eles pensam sobre os grandes temas brasileiros.
O PSDB está a deriva. Eleitoralmente ainda é forte: não se pode desprezar o poder de fogo do grande partido oposicionista do país. Mas como vive uma crise ideológica, pode ser em breve superado por grupos francamente reacionários, que sabem muito bem o que querem. Se isso acontecer, a oposição será comandada pelo que o país tem de pior. E como a democracia presume a rotatividade do poder, um dia a oposição voltará ao governo. Imagine se quando esse dia chegar ela for liderada por Silas Malafaia?
Por isso eu digo: o PSDB é necessário para a nossa democracia. Não esse PSDB de Serra, mas o de Montoro, FHC e Covas. Que ele possa retornar como um partido solidamente centrista, liberal, democrático e moderno, para manter nossa democracia segura de ideias autoritárias.

Um comentário:

  1. Tiago, não esqueça que o Alckmin é da Opus Dei. Só isso já bastaria para que ele apodrecesse na cadeia. E o Aécio é outro pulha, com a cumplicidade criminosa dos jornalões mineiros - que, ao se expor no cenário nacional, viu como a patota pró-Serra articulou sua desistência da campanha ao Planalto. E seu comportamento digno de filho de ditadores sanguinários - mais para Uday Hussein do que para futuro presidente - sepultou seu projeto presidencial de vez.

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