É generalizado entre os eleitores esquerdistas da Dilma o sentimento de decepção com o ministério que foi anunciado. E de fato é um sentimento facílimo de entender. Passamos anos defendendo o governo. Quando a coisa apertou e parecia que Aécio ia ganhar nós fomos para a rua. Não tenho nenhuma dúvida que Dilma jamais teria sido reeleita sem nossa ajuda. Aí quando ela ganha a eleição nomeia essas pessoas? Como assim? De fato soa intolerável.
Este post não tem qualquer pretensão de defender as nomeações. Quem acompanha o blog sabe que quem escreve aqui é um eleitor de esquerda que aprova as políticas sociais do PT mas não suporta o desastre político ideológico que vimos nos últimos 12 anos. Mas acho que vale tentar pensar de forma minimamente racional sobre o que está acontecendo.
A grande questão é: Dilma sabe que vai vir chumbo grosso no caso da Petrobrás. Não adianta ficarmos fingindo que está tudo bem se demonstrarmos o fato óbvio que o PSDB também fez a festa por lá e a mídia esconde isso. O fato concreto é: pessoas importantes do governo estão envolvidas. Isso virá à tona. Os grandes veículos de imprensa baterão pesado. Neste momento essa é a questão central para Dilma. E não adianta a gente se iludir: ela vai fazer o diabo para se salvar. E isso inclui nomear o capeta para o ministério se isso ajudar a alcançar o objetivo.
Tudo isso é péssimo sim. Mas me enoja ainda mais ver gente fazendo demagogia nas redes sociais bancando os indignados com isso tudo. Quem acompanha minimamente a política sabe que o ministério da Agricultura está nas mãos dos ruralistas desde sempre, incluindo os últimos 12 anos. Katia Abreu sem duvidas é um baita soco simbólico na cara. Mas em termos concretos, não difere do que vinha antes. O novo ministro do esporte não tem nada a ver com a área? Não. Mas me mostre em que Aldo Rebelo tinha ligação com o assunto. Isso é mais do mesmo. Desde que chegou ao governo o PT fez alianças com o que há de pior na nossa política. Quem votou na Dilma sem saber disso é muito inocente ou burro.
Sim, há coisas que matam de raiva. No meu caso particular o Cid Gomes como ministro da educação é pra querer morrer. É uma coisa horrorosa. Mas aí eu volto ao ponto de partida: quem achou que teríamos um ministério de esquerda? Quando teclamos 13 na urna e apareceu a cara do Michel Temer no canto como vice, e você confirmou, você realmente imaginava que viria por aí um governo sem alianças podres?
Vivemos num país em que a maioria do legislativo não tem ideologia e está pouco se fodendo se PT ou PSDB está no governo. Eles querem cargos, seja lá qual for o governo. Quem quer que ganhe as eleições sabe que só vai governar se fizer a vontade desse pessoal. E quando se trata de um governo com o cu na mão pelas roubalheiras que estao prestes a ser denunciadas, aí que essa gente se aproveita mesmo.
Resumindo ao extremo: o ministério da Dilma é um lixo sim. Mas muito pior é quem se diz surpreso, magoado, chateado, mas estava lá quietinho vendo o congresso se enchendo de picaretas. Gente que grita "REFORMA POLÍTICA" sem nem saber o que é isso, espera que um presidente pise nos outros dois poderes e vai chiar nas redes sociais quando isso não acontece. Aí sim temos a babaquice em estado puro.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
domingo, 14 de dezembro de 2014
O estupro nosso de cada dia
Seria muito fácil pra mim escrever um post indignado contra a babaquice conservadora personificada em Jair Bolsonaro enfatizando sua defesa da ditadura. Minha vida tem tudo a ver com isso. Meus pais e tios sofreram com ela. O post sairia de forma automática, sem que eu precisasse sequer pensar nele. Mas poderia soar como legislação em causa própria. Vou abordar a questão por outro ângulo então. Um ângulo que mexe com questões que eu nunca vivi, e em relação às quais eu estou do lado "vencedor".
Neste miserável ano de 2014 ouvi duas amigas de faculdade contando que foram estupradas há muito tempo. Uma foi encurralada no caminho de casa. Foi estuprada enquanto ouvia os moradores dos prédios vizinhos gritando "aeeeeeee". A outra foi vítima de estupro DUAS vezes. Uma, quando era uma garotinha pré adolescente. Outra, já na pós graduação, tendo como algoz um dos mais famosos intelectuais da nossa área. Nenhuma das duas teve coragem de denunciar o agressor. A primeira estava de minissaia e achou que seria considerada culpada por usar uma roupa assim num lugar vazio. A outra por, mesmo tendo ficado com ossos quebrados na cama por meses, temer ser vista como aproveitadora tentando tirar uma casquinha da fama de um sujeito importante na nossa área.
Elas estão muito bem hoje. Uma é professora de uma grande universidade pública paulista, outra ocupa posto semelhante no Rio de Janeiro. Não faço ideia do que elas sentem a respeito. Só posso imaginar o que deve ter sido a dor de uma agressão desse tipo somada à impotência, e a posterior tristeza de silenciar sobre o assunto por concluir que o agressor não seria punido. Quanto a isso não tenho nada a dizer.
Mas este post é exatamente sobre isso. Sou homem branco de classe média e heterossexual. Há 42 anos ando pelas ruas sem o menor medo de ser estuprado. Nunca precisei me preocupar com portas giratórias de banco se fechando. Sempre pude me vestir terrivelmente mal, com roupas horríveis e velhas sem medo de ser revistado ou ser considerado suspeito. Minha orientação sexual jamais me fez ter motivos para me preocupar. Andei de mãos dadas com minhas namoradas sempre que quis.
E é nesse contexto que aparece o pesadelo dos pesadelos. Um tipo que defende o aumento da opressão aos gays e fala de estupro como se fosse algo que só acontece com quem merece. Em suma, defende que a opressão aos subalternos da nossa sociedade é muito pouco, e precisa aumentar muito ainda. O que não teria importância, se não fosse o fato de: 1) esse lixo tenha sido reeleito deputado mais uma vez com uma votação consagradora graças à multidão que concorda com ele; 2) pior de tudo, a postura dele ser vista por essas pessoas como sintoma de coragem e honestidade.
Ou seja, para uma fatia nada desprezível dos brasileiros defender a opressão aos que já são oprimidos é um gesto de coragem. Vociferar contra quem já sofre todo santo dia é ser honesto. Ameaçar uma parlamentar eleita pelo povo de seu estado é "dizer a verdade". Sim, meus amigos, essa é a terrível verdade: esse é o país em que vivemos.
Este post não vai ter um fim. Pois vou ali chorar um montão. Pensar nisso tudo é deprimente. Ate mais.
Neste miserável ano de 2014 ouvi duas amigas de faculdade contando que foram estupradas há muito tempo. Uma foi encurralada no caminho de casa. Foi estuprada enquanto ouvia os moradores dos prédios vizinhos gritando "aeeeeeee". A outra foi vítima de estupro DUAS vezes. Uma, quando era uma garotinha pré adolescente. Outra, já na pós graduação, tendo como algoz um dos mais famosos intelectuais da nossa área. Nenhuma das duas teve coragem de denunciar o agressor. A primeira estava de minissaia e achou que seria considerada culpada por usar uma roupa assim num lugar vazio. A outra por, mesmo tendo ficado com ossos quebrados na cama por meses, temer ser vista como aproveitadora tentando tirar uma casquinha da fama de um sujeito importante na nossa área.
Elas estão muito bem hoje. Uma é professora de uma grande universidade pública paulista, outra ocupa posto semelhante no Rio de Janeiro. Não faço ideia do que elas sentem a respeito. Só posso imaginar o que deve ter sido a dor de uma agressão desse tipo somada à impotência, e a posterior tristeza de silenciar sobre o assunto por concluir que o agressor não seria punido. Quanto a isso não tenho nada a dizer.
Mas este post é exatamente sobre isso. Sou homem branco de classe média e heterossexual. Há 42 anos ando pelas ruas sem o menor medo de ser estuprado. Nunca precisei me preocupar com portas giratórias de banco se fechando. Sempre pude me vestir terrivelmente mal, com roupas horríveis e velhas sem medo de ser revistado ou ser considerado suspeito. Minha orientação sexual jamais me fez ter motivos para me preocupar. Andei de mãos dadas com minhas namoradas sempre que quis.
E é nesse contexto que aparece o pesadelo dos pesadelos. Um tipo que defende o aumento da opressão aos gays e fala de estupro como se fosse algo que só acontece com quem merece. Em suma, defende que a opressão aos subalternos da nossa sociedade é muito pouco, e precisa aumentar muito ainda. O que não teria importância, se não fosse o fato de: 1) esse lixo tenha sido reeleito deputado mais uma vez com uma votação consagradora graças à multidão que concorda com ele; 2) pior de tudo, a postura dele ser vista por essas pessoas como sintoma de coragem e honestidade.
Ou seja, para uma fatia nada desprezível dos brasileiros defender a opressão aos que já são oprimidos é um gesto de coragem. Vociferar contra quem já sofre todo santo dia é ser honesto. Ameaçar uma parlamentar eleita pelo povo de seu estado é "dizer a verdade". Sim, meus amigos, essa é a terrível verdade: esse é o país em que vivemos.
Este post não vai ter um fim. Pois vou ali chorar um montão. Pensar nisso tudo é deprimente. Ate mais.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
O problema não é o Bolsonaro, mas a sociedade que o apóia
Evito gastar muito tempo falando do Bolsonaro. Sinceramente não o vejo como um problema. Trata-se de mais um picareta oportunista entre tantos outros que temos em nosso país. Entendo perfeitamente as pessoas que têm nojo dele e o criticam, ainda mais depois da insuportavelmente absurda atitude perante Maria do Rosário. Uma das minhas melhores amigas foi estuprada. Duas vezes. Quando penso nele falando como se estupro fosse algo a que se faz jus (ainda mais no plenário do congresso, se dirigindo a uma deputada eleita pela população de seu estado) também sinto nojo, não consigo deixar de vê-lo como uma criatura abjeta. Isso não se discute. A questão é: Bolsonaro é o de menos.
A questão é: Bolsonaro não foi NOMEADO para o congresso. Foi eleito. Está no fim de seu sexto mandato como deputado federal, e em breve assumirá o sétimo, para o qual foi eleito com a maior votação dentre todos os que concorriam à vaga no estado do Rio de Janeiro. Mais que isso. Ele começou como um deputado que obtinha mandatos com votos de policiais e militares. Mas com a radicalização crescente dos últimos 12 anos se transformou em protagonista a ponto de ser um dos políticos mais votados e conhecidos do nosso congresso nacional. Então convenhamos que aí há algo em que temos de pensar.
Para mim a principal questão é: o que faz tanta gente se sentir representada por Bolsonaro? Me parece claro que o deputado capitaliza um vago e genérico sentimento de insatisfação conservadora. Pessoas que acham que gays estão dominando o mundo, que o Brasil é uma ditadura comunista, que acreditam que homens nasceram para dominar o frágil sexo oposto mas são obrigados a lidar com insuportáveis feministas de pernas peludas que odeiam todos os homens do planeta, gente que sente saudade da "ordem" dos tempos da ditadura (estão plenamente dispostos a ter de volta a censura, a amarra política e o caos econômico caso os subalternos tenham a boca fechada à força), e por aí vai.
Não é uma insatisfação politizada. Qualquer pessoa que tenha alguma noção do que é o PSDB sabe que é um partido que jamais endossou qualquer uma dessas posturas. Quem sabe minimamente quem são (ou foram) Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra e outros tem a perfeita noção de que o deputado devia odiar essas pessoas com o mesmo ardor que mostra contra o PT. Mas o fato de termos um governo petista no poder abriu espaço para que essa gente liberasse seus demônios como nunca. Termos absurdos como "petismo comunista bolivariano" foram o mote para uma onda absolutamente direitista que não se sente representada pelos dois partidos que disputam o poder há 20 anos. Mas o fato de termos um partido visto como "comunista" no poder liberou esses demonios.
Bolsonaro nada mais é do que um oportunista que percebeu que havia um nicho enorme nesse contexto. Passou a criar factóide em cima de factóide. Defesa da ditadura, crítica a feministas, apologia ao estupro, tanto fazia. O que importa a ele é marcar posição como o grande defensor desse mundo maravilhoso que se perdeu com a ascensão do comunismo-feminismo-gayzismo. Mais que isso, notou que seus factóides serviam para deixar exaltados seus opositores, o que serve para justificar seu absurdo discurso auto vitimizatório, de que é perseguido pela tal ditadura comunista-feminista-gayzista, fortalecendo então o apoio da camada lunática da nossa sociedade que acredita nessas coisas. Muita gente do nosso lado não percebeu que xingar Bolsonaro apenas o fortalece ainda mais. Para seus seguidores, essas críticas provam que ele é um perseguido por dizer a VERDADE que comunistas, gays e feministas querem esconder.
Creio que os leitores deste post entenderam o quanto sou radicalmente opositor à tudo o que esse imbecil defende. Mas me parece que o buraco está bem mais embaixo. Suponhamos que ele se retirasse da política hoje. O que vocês acham que aconteceria? Alguém duvida que apareceria outro oportunista com o mesmo discurso em busca dos mesmos votos dele? Então, o problema não é Bolsonaro. Nem Olavo de Carvalho, Lobão, Feliciano. É a quantidade de pessoas da nossa sociedade que segue achando que vivemos numa ditadura comunista, que gays tem de morrer, que mulheres existem para servir aos homens e que negros têm de agradecer por não serem chicoteados. Quando acabar essa visão de mundo, nunca mais teremos bolsonaros e felicianos. E é contra isso que temos de lutar.
A questão é: Bolsonaro não foi NOMEADO para o congresso. Foi eleito. Está no fim de seu sexto mandato como deputado federal, e em breve assumirá o sétimo, para o qual foi eleito com a maior votação dentre todos os que concorriam à vaga no estado do Rio de Janeiro. Mais que isso. Ele começou como um deputado que obtinha mandatos com votos de policiais e militares. Mas com a radicalização crescente dos últimos 12 anos se transformou em protagonista a ponto de ser um dos políticos mais votados e conhecidos do nosso congresso nacional. Então convenhamos que aí há algo em que temos de pensar.
Para mim a principal questão é: o que faz tanta gente se sentir representada por Bolsonaro? Me parece claro que o deputado capitaliza um vago e genérico sentimento de insatisfação conservadora. Pessoas que acham que gays estão dominando o mundo, que o Brasil é uma ditadura comunista, que acreditam que homens nasceram para dominar o frágil sexo oposto mas são obrigados a lidar com insuportáveis feministas de pernas peludas que odeiam todos os homens do planeta, gente que sente saudade da "ordem" dos tempos da ditadura (estão plenamente dispostos a ter de volta a censura, a amarra política e o caos econômico caso os subalternos tenham a boca fechada à força), e por aí vai.
Não é uma insatisfação politizada. Qualquer pessoa que tenha alguma noção do que é o PSDB sabe que é um partido que jamais endossou qualquer uma dessas posturas. Quem sabe minimamente quem são (ou foram) Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra e outros tem a perfeita noção de que o deputado devia odiar essas pessoas com o mesmo ardor que mostra contra o PT. Mas o fato de termos um governo petista no poder abriu espaço para que essa gente liberasse seus demônios como nunca. Termos absurdos como "petismo comunista bolivariano" foram o mote para uma onda absolutamente direitista que não se sente representada pelos dois partidos que disputam o poder há 20 anos. Mas o fato de termos um partido visto como "comunista" no poder liberou esses demonios.
Bolsonaro nada mais é do que um oportunista que percebeu que havia um nicho enorme nesse contexto. Passou a criar factóide em cima de factóide. Defesa da ditadura, crítica a feministas, apologia ao estupro, tanto fazia. O que importa a ele é marcar posição como o grande defensor desse mundo maravilhoso que se perdeu com a ascensão do comunismo-feminismo-gayzismo. Mais que isso, notou que seus factóides serviam para deixar exaltados seus opositores, o que serve para justificar seu absurdo discurso auto vitimizatório, de que é perseguido pela tal ditadura comunista-feminista-gayzista, fortalecendo então o apoio da camada lunática da nossa sociedade que acredita nessas coisas. Muita gente do nosso lado não percebeu que xingar Bolsonaro apenas o fortalece ainda mais. Para seus seguidores, essas críticas provam que ele é um perseguido por dizer a VERDADE que comunistas, gays e feministas querem esconder.
Creio que os leitores deste post entenderam o quanto sou radicalmente opositor à tudo o que esse imbecil defende. Mas me parece que o buraco está bem mais embaixo. Suponhamos que ele se retirasse da política hoje. O que vocês acham que aconteceria? Alguém duvida que apareceria outro oportunista com o mesmo discurso em busca dos mesmos votos dele? Então, o problema não é Bolsonaro. Nem Olavo de Carvalho, Lobão, Feliciano. É a quantidade de pessoas da nossa sociedade que segue achando que vivemos numa ditadura comunista, que gays tem de morrer, que mulheres existem para servir aos homens e que negros têm de agradecer por não serem chicoteados. Quando acabar essa visão de mundo, nunca mais teremos bolsonaros e felicianos. E é contra isso que temos de lutar.
domingo, 7 de dezembro de 2014
A quem interessam as manifestações anti-Dilma
A pergunta que está no título do post não é retórica. Parei para pensar sobre isso no último fim de semana. Essas manifestações são absolutamente sem finalidade: todos sabemos que Dilma venceu a eleição e governará o país pelos próximos quatro anos. No entanto elas se repetem, são noticiadas com destaque e não saem da pauta do debate político. Então me pergunto: por que?
Por dois motivos. Um tem a ver com o lado governista, e o outro diz respeito à oposição de direita. Nos dois casos trata-se de o início de embates em busca do protagonismo no ciclo que quatro anos de governo Dilma que está prestes a começar.
Comecemos pelo lado governista. Covenhamos que desde a vitória de Dilma não tivemos uma única boa notícia que seja. Nós, que historicamente militamos à esquerda e nos sentimos representados pelas ações do governo, tomamos uma porrada atrás de outra no período pós eleitoral. Por mais que não queiramos assumir, fomos ao paraíso na noite do dia 26 de outubro, mas depois chegou o inferno. O discurso da vitória da Dilma já apontava nesse sentido, e o que veio depois confirmou nossos piores medos. Não sabemos como serão os próximos quatro anos, mas todas as indicações que tivemos, como a formação do ministério, são de doer.
Então aparecem essas manifestações. Que pretendem prolongar a campanha para um terceiro turno. Nos devolvem àquele mundo confortável em que os ricos querem o PSDB no poder, enquanto o PT faz tudo pelos pobres. Uma dicotomia falsa que nos afasta do pesadelo do mundo real. As pessoas que estão ali de fato não têm senso de realidade e nada mais querem do que defender seus privilégios. Mas qualquer pessoa minimamente esperta sabe: rebater uma verdade com outra verdade é um recurso argumentativo brilhante, mesmo quando vazio. Vociferar contra o elitismo e a demofobia dessas pessoas nada mais é do que uma maneira de esquecermos que até agora Dilma não cessa de fazer coisas que odiamos após vencer as eleições. A existência de grupos de malucos que pedem ditadura militar (convenhamos, são ultra minoritários nessas manifestações) ainda nos dá o bônus de agir como se estivéssemos lutando pela sobrevivência da democracia. O que é uma tolice. Não há chance de golpe. Muito menos com o PSDB na liderança.
Mas também há o lado oposicionista da história. Quem conhece política de perto sabe que a política interna do PSDB é um ninho de cobras. Quem me informa sobre isso é gente que vota no partido desde sempre, inclusive. E é bastante evidente que após a eleição as lideranças tucanas vão buscar o protagonismo oposicionista, o que é muito normal. É o jogo da política. Cada um vai lutar com as armas que tem. E aí entra Aécio. Nunca foi um líder nacional. Não tem qualquer projeto para o país. Mas viveu seu momento de glória ao, pela primeira vez em 12 anos, fazer a oposição disputar com chances de vitória uma eleição presidencial. Natural que queira prolongar o clima de polarização eleitoral que o torna protagonista.
Nesse processo seu antagonista natural é Geraldo Alckmin, que tem uma agenda radicalmente diferente. Como todos os governadores do país, precisa ir ao governo com o pires na mão. Precisa de uma relação menos conflitiva com Dilma para ter a ajuda necessária para governar. Além disso, o governador paulista tem um projeto claro em mente. Para ele, o PSDB precisa trilhar um caminho mais conservador para se diferenciar suficientemente do governo federal. Mas para um projeto assim prosperar é absolutamente indispensável se afastar da extrema direita que defende coisas como o regime militar. Por isso Alckmin se mantém mais distante que Aécio das manifestações. Para Aécio o terceiro turno significa protagonismo. Para Alckmin é um antagonismo desnecessário com uma presidente de quem depende das verbas e o risco absolutamente desnecessário de uma foto tendo por perto uma faixa de algum imbecil defendendo a ditadura militar.
Não sejamos inocentes. Nós, eleitores, lutamos insanamente a favor de nossos candidatos no processo eleitoral deste ano. Eu saí para a rua para defender Dilma, fiz isso nas redes sociais, bloqueei adversários da minha vida, e os que eu amo de verdade eu mantive distância para que relações importantes não fossem prejudicadas pela política. Enfim: eu votei em quem acredito, tanto quanto os que estavam do outro lado. Mas sejamos cuidadosos: há o momento de ir para a rua defender o que acreditamos e há o momento de identificar quando se espera que você seja um ingênuo útil. Sair para a rua para defender o impeachment de Dilma ou argumentar que essas passeatas são uma tentativa séria de golpe é acreditar demais em Papai Noel. Tô fora.
Por dois motivos. Um tem a ver com o lado governista, e o outro diz respeito à oposição de direita. Nos dois casos trata-se de o início de embates em busca do protagonismo no ciclo que quatro anos de governo Dilma que está prestes a começar.
Comecemos pelo lado governista. Covenhamos que desde a vitória de Dilma não tivemos uma única boa notícia que seja. Nós, que historicamente militamos à esquerda e nos sentimos representados pelas ações do governo, tomamos uma porrada atrás de outra no período pós eleitoral. Por mais que não queiramos assumir, fomos ao paraíso na noite do dia 26 de outubro, mas depois chegou o inferno. O discurso da vitória da Dilma já apontava nesse sentido, e o que veio depois confirmou nossos piores medos. Não sabemos como serão os próximos quatro anos, mas todas as indicações que tivemos, como a formação do ministério, são de doer.
Então aparecem essas manifestações. Que pretendem prolongar a campanha para um terceiro turno. Nos devolvem àquele mundo confortável em que os ricos querem o PSDB no poder, enquanto o PT faz tudo pelos pobres. Uma dicotomia falsa que nos afasta do pesadelo do mundo real. As pessoas que estão ali de fato não têm senso de realidade e nada mais querem do que defender seus privilégios. Mas qualquer pessoa minimamente esperta sabe: rebater uma verdade com outra verdade é um recurso argumentativo brilhante, mesmo quando vazio. Vociferar contra o elitismo e a demofobia dessas pessoas nada mais é do que uma maneira de esquecermos que até agora Dilma não cessa de fazer coisas que odiamos após vencer as eleições. A existência de grupos de malucos que pedem ditadura militar (convenhamos, são ultra minoritários nessas manifestações) ainda nos dá o bônus de agir como se estivéssemos lutando pela sobrevivência da democracia. O que é uma tolice. Não há chance de golpe. Muito menos com o PSDB na liderança.
Mas também há o lado oposicionista da história. Quem conhece política de perto sabe que a política interna do PSDB é um ninho de cobras. Quem me informa sobre isso é gente que vota no partido desde sempre, inclusive. E é bastante evidente que após a eleição as lideranças tucanas vão buscar o protagonismo oposicionista, o que é muito normal. É o jogo da política. Cada um vai lutar com as armas que tem. E aí entra Aécio. Nunca foi um líder nacional. Não tem qualquer projeto para o país. Mas viveu seu momento de glória ao, pela primeira vez em 12 anos, fazer a oposição disputar com chances de vitória uma eleição presidencial. Natural que queira prolongar o clima de polarização eleitoral que o torna protagonista.
Nesse processo seu antagonista natural é Geraldo Alckmin, que tem uma agenda radicalmente diferente. Como todos os governadores do país, precisa ir ao governo com o pires na mão. Precisa de uma relação menos conflitiva com Dilma para ter a ajuda necessária para governar. Além disso, o governador paulista tem um projeto claro em mente. Para ele, o PSDB precisa trilhar um caminho mais conservador para se diferenciar suficientemente do governo federal. Mas para um projeto assim prosperar é absolutamente indispensável se afastar da extrema direita que defende coisas como o regime militar. Por isso Alckmin se mantém mais distante que Aécio das manifestações. Para Aécio o terceiro turno significa protagonismo. Para Alckmin é um antagonismo desnecessário com uma presidente de quem depende das verbas e o risco absolutamente desnecessário de uma foto tendo por perto uma faixa de algum imbecil defendendo a ditadura militar.
Não sejamos inocentes. Nós, eleitores, lutamos insanamente a favor de nossos candidatos no processo eleitoral deste ano. Eu saí para a rua para defender Dilma, fiz isso nas redes sociais, bloqueei adversários da minha vida, e os que eu amo de verdade eu mantive distância para que relações importantes não fossem prejudicadas pela política. Enfim: eu votei em quem acredito, tanto quanto os que estavam do outro lado. Mas sejamos cuidadosos: há o momento de ir para a rua defender o que acreditamos e há o momento de identificar quando se espera que você seja um ingênuo útil. Sair para a rua para defender o impeachment de Dilma ou argumentar que essas passeatas são uma tentativa séria de golpe é acreditar demais em Papai Noel. Tô fora.
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