segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O que o debate do SBT nos disse sobre as eleições

Uma questão que está posta há algum tempo é: ainda faz sentido ver os debates dos candidatos à presidência? Afinal, com regras tão rígidas e os candidatos tão guiados por marqueteiros e mais preocupados em gerar boas cenas para o horário eleitoral do que em debater de verdade fica parecendo mesmo que não faz sentido. Mas faz, e muito.

Vi hoje o debate de SBT e tirei duas lições muito importantes sobre o processo eleitoral que vivemos. O primeiro é que Aécio Neves no momento é carta fora do baralho. Ficou muito evidente que foi tratado assim. Os candidatos e os jornalistas que participaram trataram Dilma e Marina como os postulantes reais. Aécio tentou polemizar, mas ficou claro que ele é o mais importante dos candidatos pequenos, nada mais que isso. Pode mudar, claro. Mas a realidade de hoje é essa. E com sua inexplicável estratégia de ver em Dilma a principal inimiga enquanto Marina fica com todos os votos que ele pretendia ter, isso parece cada vez menos provável.

Mas o mais importante que vi é que hoje, neste momento, Marina tem tudo a seu favor. Ela se beneficia de um tipo de voto muito particular. É o eleitor que tem uma visão muito vagamente politizada da vida, está cansado do conflito PT x PSDB, que acha que no fundo ambos são iguais e que é preciso mudar. Esse eleitor se identifica com Marina Silva. Por não acompanhar o dia a dia da política, esse eleitor não está interessado em saber das contradições programáticas dela, não entende de economia, acha o debate "meritocracia x políticas sociais" absolutamente inoperante. Esse eleitor quer mudança em relação "a tudo o que está aí".

E para esse eleitor Dilma e Aécio nada tem o que dizer. Ambos se mantém claramente dentro da polarização entre seus partidos, que domina a política nacional há 20 anos. Não conseguem se dar conta de que para esse contingente de eleitores esses argumentos não servem para nada. Seguem argumentando a mesma coisa. Aécio mantém a toada tucana desde 2002: uma ideia geral neoliberal misturada com promessas de manutenção das políticas sociais petistas. E convenhamos: é um candidato muito fraco. O mais irrelevante, sem discurso nem ideias que o PSDB já apresentou ao eleitorado brasileiro. O que também ajuda Marina, que surfa entre um outro eleitorado, que espera um candidato antipetista mas não se identifica com Aécio.

Mas Dilma tampouco está melhor. Tentou cercar Marina com o tema da governabilidade. Concordo com a crítica ao voluntarismo de Marina, que tenta convencer seus eleitores de que basta querer mudar que isso vai acontecer. Mas a grande questão é: como o possível eleitorado de Marina entende isso? Me pareceu que viu alguém "que compactua com tudo o que está aí" tentando desmoralizar alguém que "quer fazer algo diferente". O que mostra que o discurso não foi bem calibrado. É um discurso que cai bem para um certo tipo de público, e que me parece correto, mas nem sequer arranha o que as pessoas que estão dispostas a votar em Marina querem ouvir.

No fim o que fica é o seguinte. As manifestações do ano passado mostraram claramente a existência de um grande número de pessoas que estão cansadas do cenário político atual. Certas ou erradas, é o que elas pensam. E esse é o eleitorado de Marina Silva. Não são pessoas que lêem programas de governo, que sigam o dia a dia da política, que tenham ideologia. Elas só estão cansadas. O que é um sentimento genuíno e que se pode entender, ainda que não seja o meu. E Dilma e Aécio nada têm a dizer a essas pessoas. Entorpecidas pelos 20 anos de polêmica, não conseguem entender o que está acontecendo. E ainda ficam brigando entre si nos debates enquanto Marina surfa.

Política é o universo do tempo curto, em que as coisas mudam rapidamente, já nos ensinou o grande historiador Fernand Braudel. Tudo pode mudar amanhã. Mas hoje o cenário é: tudo está a favor de Marina.

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