sábado, 20 de setembro de 2014
Direita: estamos esperando seus argumentos
Como provavelmente todos vocês sabem, Luciana Genro foi ao programa de Danilo Gentili. Lá o apresentador e seu coadjuvante, o músico Roger, colocaram em cena a pauta do socialismo. Tentanto argumentar que a ideologia da candidata foi responsável por milhões de mortes (válido, já que o capitalismo nunca matou ninguém). Genro argumentou que o que houve nos chamados regimes socialistas não era socialismo, e que não tinha nada a ver com o que Marx defendeu. Seus interlocutores responderam no dia seguinte no twitter com coisas como a que ilustra o post. Falta de educação e canalhismo, claro: quem recebe convidados e no dia seguinte os ofende publicamente? Mas não é só isso.
O problema é que isso reflete uma questão muito mais ampla: a total falta de argumentos da direita brasileira. Pois esse pessoal simplesmente se acostumou a debater em espaços em que todos pensam como eles. Blogs direitistas, fóruns nas redes sociais, e coisas assim. Espaços onde se repete à vontade ideias absurdas e desprovidas de qualquer senso lógico, como: nazismo e socialismo são a mesma coisa, quem é de esquerda não pode ter acesso a bens de consumo, o mundo é dominado por feministas de pernas cabeludas e gays autoritários, há censura de livros clássicos da nossa literatura nas nossas escolas, e assim por diante.
Nada disso tem a mais vaga sustentação na realidade. Há infinitos dados comprovando isso. Mas essas pessoas estão tão acostumadas a debater entre si, aos gritos, que estão absolutamente convencidas de que não há argumentos possíveis que possam ser usados contra essas "verdades". E vá você tentar explicar que Hitler, Stalin e Marx não eram iguais, que vivemos num mundo machista, racista e homofóbico, que nos anos 60 e 70 o Brasil não era dominado por uma ditadura totalitária de esquerda, que o PT não inventou a corrupção, que nordestinos não são um bando de retardados que venderam o voto ao governo por causa de esmolas e assim por diante.
E o que aconteceu na imagem que ilustra o post? Gentili e Roger propuseram um tema que esse pessoal ama "ah, socialismo é um lixo, todo mundo que é de esquerda adora Stalin, olha que burros". Genro propôs um debate diferente: "mas você acha que o stalinismo é mesmo baseado em Marx?". Gentili e Roger não souberam responder. Claro, formaram suas opiniões a partir desses debates com pessoas que pensam como eles e também nunca estudaram o assunto. Restou o silêncio e a agressão covarde depois, quando Genro estava bem longe. Aí é que está: não é só cafajestagem. É falta de argumentos também.
Essas pessoas são a prova definitiva de que a direita brasileira simplesmente perdeu a capacidade de debater. Quem conhece história sabe que, bem ou mal, gostando ou não, houve um tempo em que a direita brazuca tinha intelectuais sofisticados defendendo seus argumentos em termos absolutamente racionais. Também tinha políticos que, gostássemos ou não, estavam tentando conquistar os corações e mentes da classe trabalhadora, lutando ao lado deles.
Mas o que vemos hoje é evidentemente diferente. A ditadura desconfiava de quem pensasse. O que fez a direita desaprender a tentar fazer elaborações intelectuais que fizessem o mínimo de sentido. O neoliberalismo, com sua gigantesca desconfiança dos movimentos sociais, fez com que a direita esquecesse qualquer tentativa de interlocução com eles. Sem usar o cérebro e tendo ódio de quem vem de baixo, sobrou muito pouco à direita, além do apoio da mídia e dos empresários.
Numericamente muito inferior, coube a direita assumir o papel de minoria incompreendida. Quem vota contra ela, nessa perspectiva, são as feministas, os pobres, os nordestinos, os intelectuais, os sindicalistas, os gays, os negros. A direita resolveu assumir, de forma suicida, o papel de defensor dos privilegiados. Só brancos bem nascidos das regiões mais desenvolvidas votam nela, e são os únicos que sabem votar. Todos os outros são idiotas.
Como pensam isso, estão destinados a perder sempre. Restam os espaços exclusivíssimos em que podem despejar sua raiva contra o mundo cruel em que vivem. Em que dão vazão à ideia de que vivem num mundo em que são oprimidos. Em que podem mostrar todo o seu desprezo pela "corja" que na opinião deles domina o país. Até aí tudo parece lindo. Brabo é quando alguém aparece contrapondo argumentos racionais, definições conceituais minimamente rigorosas e números. Aí tudo o que eles pensam desmorona. Resta aumentar a raiva. Que é só o que eles têm.
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Fodaço!
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