quinta-feira, 7 de maio de 2015

O governo do medo

Nesta semana tivemos programa do PT na TV. A reação contrária foi uma bateção de panelas de uma parcela bem minoritária da população em alguns bairros de elite em um punhado de cidades grandes brasileiras. Um grupo bem pequeno da população que sequer foi eleitor do PT algum dia em sua maioria. Gente que grita por educação mas vota em partido que governa estados com greves de professores, um dos quais tem governador que faliu o estado mandando a PM massacrar professores. Gente que diz defender os direitos dos trabalhadores, mas votam em partido que votou maciçamente na terceirização. Ou seja, pouca gente, histérica e hipócrita. Em termos políticos, pouco mais que nada.

Mas foi o medo disso que fez com que Dilma não falasse como devia no primero de maio. Como todos os presidentes que eu me lembro fizeram, independente do clima político. Dilma podia ter aberto cadeia nacional, mostrado como seu governo melhorou a vida de quem trabalha. Partindo para uma atitude ativa. Mas não. Preferiu gravar um video qualquer solto durante o dia. Com medo do panelaço hipotético. Desprezou a massa de nordestinos, trabalhadores, eleitores da esquerda que a apóiam. Tomou sua decisão baseada num punhado de oposicionistas. Que iriam ganhar destaque na mídia, claro. Mas é isso que a grande imprensa faz. Ataca o governo. Se é pra ter medo dessa gente melhor nem tentar governar.

Essa história é apenas uma ilustração do medo que estrutura as ações desse governo. Que se entregou ao PMDB com medo de ser destituída pelo... PMDB! Pois afinal de contas é o que o partido faz desde o governo Sarney. A tática do morde e assopra. Alguns mordem, e outros assopram pedindo cargos para calar os primeiros. Fizeram isso com Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula. Mas com Dilma funciona mais que nunca.

Funciona assim. O maior líder que a oposição tem hoje é Eduardo Cunha. Que é do PMDB. Aí outros membros do partido, como Michel Temer e Renan Calheiros, se oferecem para resolver o problema. Em troca de cargos polpudos, claro. De preferência ministérios com orçamento bem gordo. A velha estratégia de criar problemas para vender soluções. O PMDB faz isso com sucesso há 30 anos. E vampiros assim sentem cheiro de sangue. Percebem que o governo se guia pelo medo. Mordem mais que nunca, para vender mais caro os que assopram. Resultado: estamos nós aqui rezando para Renan Calheiros segurar a medida da terceirização no senado. Entederam? Estamos nas mãos de RENAN CALHEIROS. Precisa falar mais?

Tudo isso tem a ver com o medo. O segundo governo Dilma desistiu completamente de qualquer agenda propositiva. Quer apenas se salvar. E lida com um congresso horrorosamente conservador. Então ao invés de dizer o que pensa e debater com o outro lado, apenas pensa em como acalmar os conservadores. Esse grupo sempre foi muito forte, mas hoje se sente dominante e poderoso. Ter uma presidente se curvando a qualquer demanda para sobreviver politicamente lhes fortalece. Os vampiros sentem cheiro de sangue em um governo que está em pânico e aproveitam.

E tem a questão do "ajuste". Qualquer pessoa com um mínimo de entendimento sabia que seja lá quem fosse o governo eleito, isso teria de acontecer. Dilma teve a péssima ideia de entregar credito na mão de grandes empresários, imaginando que eles gerariam empregos, mas eles apenas usaram a grana para jogar na bolsa em busca de lucro rápido. Essa política equivocada gerou excesso de gastos, e isso teria de ser de alguma forma resolvido no segundo mandato.

Mas a solução foi inacreditável. Ao invés de taxar os mais ricos, quem pagou o pato foram a educação e os trabalhadores. Algo que um governo de esquerda jamais poderia fazer. Mas é exatamente o que está sendo feito. Aí fica assim. Os ricos, aqueles que batem panela e reclamam até a morte, continuam sendo privilegiados. Mas meus alunos recebem bolsas com atraso. Chega o dia de pagar as contas e o dinheiro não caiu na conta. Algo esperado num governo de direita, tipo o que Aécio faria, mas inimaginável num governo petista.

O que nos leva a outro ponto horrendo que é a coordenação política. Pelo que me informa gente muito próxima ao planalto, Dilma é muito honesta, mas detesta políticos. Se vê no papel de quem precisa de ajuda para lidar com congressistas, por exemplo. E está muito mal assessorada. Muito. Não é Lula, não tem apoio de gente como Zé Dirceu ou Palocci. Articulação política faz falta. E aí cria-se um vácuo em que a agenda conservadora não pára de crescer e se desenvolver. Sem que haja contraponto.

Em suma, temos um governo com medo, na defensiva e agindo como se só tivesse como solução dar de mão beijada tudo o que os vampiros pedem. E isso fica ainda mais claro em um momento em que a situação é muito favorável: impeachment sumiu da pauta, PSDB completamente enrolado com a violencia e incompetencia do governo paranaense, greve dos professores em SP, Aécio sem ter o que dizer. PMDB apenas querendo o de sempre: cargos. Mesmo assim o governo se mantém na defensiva e sofre com ausência de coordenação política. Junte a isso o congresso que está lá e fica fácil concluir: a situação não é boa. Não para o governo, mas para o país.

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